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Sou católica por educação. Educaram-me para ser católica. Fui batizada, fiz a comunhão, a profissão de fé, o crisma e fui catequista.
Durante muitos anos consegui conciliar aquilo que me ensinavam na igreja com aquilo que aprendia na escola. Mas acreditava. Julgava que a fé era uma coisa mesmo muito forte, porque tinha de ser cega, porque era incongruente.
Deixei de ser catequista, quando vi o padre dar uma estalada num dos "meus" meninos a quem dava catequese. Senti aquela palmada em mim e deixei de acreditar em muita coisa, porque até o amor que não se vê tem de se sentir, para se dizer que existe.
Casei na igreja. havia tantas hipóteses de o fazer como de não o fazer. Mas, ao contrário do que se possa pensar, tê-lo feito só me fez acreditar um pouco menos na religião em que me educaram. Que padre tem a capacidade de me aconselhar a levar uma vida a dois, a três e, agora, a quatro, quando vive, tão facilmente, sozinho? O que sabe um homem de dedicar a vida ao outro, quando o único outro é um Deus?
Batizei os meus filhos na igreja, porque, já aqui o disse, faço muitas coisas por amor. Faço muitas coisas para agradar aos outros e isso não me incomoda. Nada.
Há um ano atrás chegou a altura da catequese da miúda. Não fui capaz de lidar com esta dificuldade em fingir que sou católica e que acredito naquilo em que, afinal, já não acredito. Acredito num Deus que é o amor, que é a felicidade, que é o bem. Para lá disso, não sei explicar mais nada, não tenho mais respostas. A miúda não foi para a catequese.
Há uns meses começou a pedir-nos que queria ir. Os amiguinhos iam, queria aprender a rezar...
Parei para pensar. No fundo a essência do catolicismo e os seus princípios são bons: um homem que morre por amor aos outros, capaz de perdoar, que espalha amor pelo seu caminho, é uma bela história de amor para ensinar aos meus filhos.
A miúda vai para a catequese, resolve-se. Livro-me assim de uma série de discussões em vão ( e eu não discuto religião, não vale a pena!).
No sábado à tarde, enquanto falávamos na necessidade de começar a ir à missa (ah! pois, temos de voltar à missa...), diz ela:
- Em nome do Pai, do Filho, do... Ó mãe, porque é que é em nome do pai, do filho e não é em nome do pai, da mãe e do filho?
Eu:
- Porque antigamente os homens eram uns machistas e não consideravam as mulheres para nada.
O meu marido, chocado: "Não, filha, é porque pai era Deus e...
Eu, outra vez, a tentar suavizar as palavras:
- Só os homens é que sabiam ler e escrever, as mulheres não importavam muito e... por isso, só os homens é que discutiam as coisas e eram padres... nem há padres, não é?!
Desisto. Calo-me.
O homem da casa está chocado demais. Não está preparado para isto. Não estamos preparados para isto. Calamo-nos.
Ela, por fim:
- Isso quer dizer que nunca vou poder ser padra, não é?
Pois, isto vai ser um processo difíííícil!!!
...aqui, deste lado da montanha.