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Profissão: professora

por Ni, em 27.01.15

Voltei à escola. Literalmente, entenda-se. Depois de uma semana de "quarentena", fechada em casa, com fugazes saídas para ir ao hospital e à farmácia, confesso que assim que cheguei à escola não corri para os meus alunos porque acho que eles iam ficar assustados. Mas não se livraram de uns abraços carregadinhos de saudades... logo de mim, que nem sou nada de abraços e sou toda "não me agarres que eu não gosto".

Será possível alguém gostar tanto assim de ser professora?

Logo hoje que as notícias sobre professores são, como já vem sendo hábito, desmoralizadoras, deixando a imagem pública dos que gostam de dar aulas (e são, ainda, tantos!) um bocadinho mais negra...

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Key for Sheeps

por Ni, em 01.05.14

Ainda a propósito do tempo e do que fazemos com ele, ontem foi dia de Key for Schools. 

E, antes que se aventurem a pensar o contrário, gosto de ser professora. Gosto de ensinar. Gosto de dar aulas. Gosto da escola.

Ontem foi o dia de Key for Schools. Disseram-nos que tínhamos de reunir. Reunimos duas horas para conhecer procedimentos, que, na maioria, não entendíamos porque despropositados. Disseram-nos que não podíamos dar aulas, porque as salas eram precisas. Não demos aulas. Os alunos que não faziam o KFS foram enviados para casa. Disseram-nos que tínhamos de vigiar os alunos e fazer exclusivamente o que estava descrito nos procedimentos. Vigiámos os alunos e fizemos o que estava descrito nos procedimentos: 30 professores.

 

Dizem-nos que os alunos vão ficar a ganhar com o certificado. Os alunos pagam 25 euros pelo certificado. Dizem que os professores ganham formação de Inglês com o KFS. Só os professores corretores ( de Inglês) vão receber formação. Para corrigir as provas!

 

Expliquem-me lá, como se fosse pequenina, para ver se não me sinto tão ovelhinha assim, a ser conduzida para um penhasco cheio de pedragulhos: o que é que o Ministério da Educação ganha com isto? o que é que a educação dos meus meninos ganha com isto? Se as horas em que estive a trabalhar são pagas pelo Ministério da Educação, logo, por mim e pelos pais dos meus alunos, por que é que eles têm de pagar ainda mais pelos certificados? Ou será que o meu trabalho foi um "empréstimo" ao Cambridge English Language Assessment? 

Dúvidas, dúvidas. Ninguém me esclarece. E lá continuamos, pelos dias, cada vez mais ovelhinhas, mas agora, se tudo correu bem, com certificado!

 

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toque de entrada

por Ni, em 06.09.13

Aflige-me a escola sem os meus alunos. Aflige-me o silêncio dos passos quase solitários nas escadarias da entrada, aflige-me a ausência dos olhares que se escapam dos grupinhos à porta do bar, aflige-me a falta dos sorrisos que se perdem no vento, afligem-me as paredes despidas de beijos roubados às escondidas, aflige-me a sala deserta, e o quadro vazio, e os corredores mortos.

 

 

E sei que depois do primeiro toque  nada voltará a ser como antes, e que mil vezes, e mais mil, desejarei o instante de silêncio que hoje me aflige. Ainda assim, quero o coração a palpitar e os olhos a brilhar do toque da campainha. Quero o cheiro dos livros novos e o brilho das mochilas ainda sem riscos, ainda sem corações, ainda sem palavras de amor e de desamor. Quero os olhos ávidos de vida dos alunos que hão de ser meus.

 

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Profissão: professora

por Ni, em 17.06.13

Sou professora. Gosto tanto, tanto da minha profissão. Gosto tanto dos meus alunos. Gosto tanto da escola, das salas de aulas, de ensinar, de aprender. 

Nunca tinha feito greve. Em dia de aulas não faço greve. Em dia de aulas ensina-se. Em dia de aulas, não se mandam os alunos para o recreio, antes da hora. Gosto tanto dos meus alunos. Por isso, não faço greve às aulas.

 

Hoje estou em greve. Porque gosto tanto da minha maltratada, malvista, malpaga profissão.

Que os alunos e os pais se preocupem, se indignem, se revoltem, se incomodem! Sim, por favor! Sim, por favor, reparem que os professores estão em greve...

 

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Fechada entre páginas

por Ni, em 23.04.13

De alma partida. A vontade de escrever de paixões, de vidas paralelas que se cruzam com a minha, de personagens que nos entram em casa e fazem parte de nós, de escrever das folhas que nos correm por entre os dedos até ficarem gastas e sumirem, das palavras que se nos colam à pele e, às vezes, nos atormentam, para, às vezes, nos libertarem. Vontade de escrever de livros.

 

E no mesmo dia mundial do livro, o abismo que  milhares de professores enfrentam. Colegas, amigos, familiares à espera de não caírem, a ver os dias de hoje como os dias bons de antigamente.

 

De alma partida, refugio-me nos livros. 

 

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Colinhos

por Ni, em 04.04.13

Eu não sou nada destas coisas. Sou exigente demais, bruta demais. Não gosto que eles se agarrem a mim. Reclamo quando se portam mal, quando fazem barulho, quando falam muito.

 

E, depois, há dias assim, com alunos ainda mais assim, que dá vontade de trazer para casa e dar colinho, muito colinho. Raio de vidas!! Raio de miúdos a terem de ser graúdos! Raio de graúdos a agirem como miúdos!

 

 

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Odeio reuniões

por Ni, em 20.03.13

Este post podia estar carregadinho de metáforas, a começar pelo título, que poderia ser qualquer coisa como o ataque dos papéis infernais, ou a infelicidade contagiosa das pessoas tristes, ou  os dias cinzentos da escola, ou o outro lado de ser professor, ou qualquer outra coisa que deixasse os meus dois, vá lá três, leitores inquietos e a refletir sobre o tanto que tenho para dizer acerca de reuniões, no entanto, este post resume-se a isto: odeio reuniões.



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máscaras de mudança

por Ni, em 17.03.13

Somos assim, geralmente, aversos à mudança, desconfiados de tudo o que implique novidade. Não sei se é por termos debaixo da pele traços de portuguesices ou se é, apenas, porque somos humanos.

Não  sou tão diferente de todos, apenas guardo para mim a desconfiança face à mudança e permito-me ser tão fácil de convencer a mudar que até dói! Basta só, só, dizerem-me que é melhor, mais fácil, mais rápido, palavras mágicas para que me vá pôr experimentar. 

Os professores deviam ser assim com tudo. Ensinar é isso mesmo: rasgar as bases de qualquer coisa tida por certa. Ensinar é mudar. Aprender é mudar.

 

Deviam ser, mas não são... Tenho colegas presos a ontem sem perspetivas de amanhã. Velhos do Restelo, com pouco mais de 30 anos.

Que a nossa vida está difícil, que somos mal vistos, que somos mal pagos, que não nos respeitam... Está bem. Mas não deixo que me levem a vontade de aprender, de saber, de melhorar.

 

  

Vem isto a propósito de uma formação a que fui, dada por colegas meus, sobre um projeto pseudo-novo com computadores e, não, não vou criticar, não vou comentar. Ou talvez comente mais tarde... Mas serei SÓ eu que acho, no mínimo, estranho ir a uma ação sobre computadores, em computadores, em que até é requisito levar-se o computador próprio, e a primeira coisa que fazem é distribuirem-nos apontamentos em papel??? Alô??!!! Raio de velhos do Restelo mascarados! São os piores!

 

 

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Livro de Reclamações VI

por Ni, em 11.07.12

 

Esqueçam isto . Tenho a dizer que não conseguimos passar das fotografias bonitas e dos gosto no facebook, e-mails e afins. Na realidade, na vida prática e concreta, e não virtual, as mulheres não podem levar os filhos, nem os de três anos, silenciosos e sossegados, às reuniões, pelo menos, não nas escolas, pelo menos não na minha escola.

 

Não falo dos meus filhos, esses não são silenciosos nem sossegados, cabe-lhes um lugar num canto da sala de professores em frente ao computador, enquanto eu rezo para que o filme não termine antes da reunião. Não falo de mim, que já dei muitas faltas ao trabalho, primeiro porque sim, e porque estava a míseros 500km de casa, e depois porque os meus filhos adoecem à velocidade de um ai. Falo de uma colega que há duas semanas atrás comentava comigo que nunca tinha dado uma falta ao trabalho. Nunca. Nem por assistência à família... Nem por doença... Nunca. Nem uma falta.

 

Hoje, numa reunião às sete da tarde(os professores, realmente, não fazem nada), depois de ter passado o dia todo na escola a  matricular alunos (porque os professores quando tiram os cursos têm de ficar aptos para trabalhos burocráticos e administrativos), depois de ter ido a correr buscar o filho para não se atrasar entre as seis e meia e as sete, depois de pegar meia dúzia de lápis e uma folha, depois de enfiar um pão com fiambre na boca do filhote, é obrigada a sair da reunião, porque o filho não podia lá estar. Argumento: ia haver votação. Já disse que o filho em questão tem três anos, não disse? 

 

Não, não estamos na Itália...

 

 

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Filhos de um deus Ritalina

por Ni, em 22.06.12

Escandalizo-me. Assustam-me de morte as violências contra crianças e adolescentes, violências físicas, morais, intelectuais, mas, acima de tudo, a violência social que todos, mais ou menos diretamente, acabamos por cometer. A cada dia que passa, descubro uma nova criança, ou um adolescente, completamente dopado, drogado, aniquilado no fazer, no pensar, porque todos, mais ou menos diretamente, consideramos ser mais fácil esconder os problemas dentro de um comprimido.

 

Nas nossas escolas há dezenas de miúdos ritalinados, porque é mais fácil para toda a gente... é mais fácil para os pais, porque ninguém os preparou para ser pais de meninos que não conseguem educar, para os médicos que são médicos, e isso lhes basta, para os  professores que ainda pensam que ser professor é  dar aulas, para os funcionários que estão fartos de meninos mal-comportados, para os estranhos que passam na rua e não se querem sentir obrigados a reparar em meninos mal-educados que lhes acinzentam as vidinhas...

 

Escandalizo-me porque antecipo os dias em que, terminada a escolaridade obrigatória, estes meninos passarão de doentes a toxicodependentes, não sabendo viver limitados por regras, mas apenas por pílulas milagrosas de bom comportamento. E, assim, a vida vai-lhes acontecendo, tristemente.

 

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