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Há sete anos atrás, eu estava num apartamento frio e húmido, emprestado temporariamente, numa terra estranha e nova, onde não conhecia nem o caminho para o supermercado, sozinha, enquanto esperava o final dos 30 dias que faltavam para a minha filha nascer. Há sete anos atrás, eu fui sozinha à maternidade, para que a médica me mandasse para casa, pois que era muito cedo e ainda faltava um mês... há sete anos atrás, eu voltei a ir sozinha à maternidade, guiando um carro cujos solavancos e acelerações marcavam as contrações da condutora. Há sete anos atrás, por volta da meia noite, a médica mandou-me o marido para casa e mandou-me dormir pois que ainda era muito cedo e só lá para o final do dia de amanhã ou, quem sabe, depois, porque eu é que parecia a mais apressada...
E poucas horas depois a minha filha nasceu. O pai não chegou a tempo. O pai não estava presente, nem a minha mãe, nem a tia, nem o gato. Foi assim como tinha de ser. Eu e ela.
O nascimento da minha filha marcou uma mudança tão grande na minha vida, que eu costumo dizer que não mudei nada na minha vida, apenas mudei de vida...
Não sou nada o género de pessoa para dizer que a minha vida é os meus filhos. Não consigo. Então o que é que eu faço aos trinta e um anos que vivi antes deles? Esqueço? Escondo debaixo do tapete? Gosto de pensar que a minha vida é cheia de os meus filhos, e o meu amor, e a minha família, e os meus amigos, e a minha casa, e as minhas coisas, e os meus livros, e o meu trabalho, e os meus alunos. Tanta coisa!!
No entanto, mudei de vida, sim. Por ser mãe, eu não sou diferente. Por ser mãe, eu sou outra.
...aqui, deste lado da montanha.
Os miúdos cá de casa não páram de crescer. Jamais imaginei que, com cinco anos apenas, a minha princesa (pequenina, bebé) ficasse eufórica, até às lágrimas, gritos e castigo (por esta ordem) por causa de umas sapatilhas da Hanna Montana. Mas quem raio é a Hannah Montana???
Hoje lá calçou as sapatilhas e foi para a escola como quem vai calçada com sapatos de ouro... Miúdas!!
...aqui, deste lado da montanha!
Caiu o primeiro dente de leite da minha filhota e ela anunciou aos sete ventos (educadoras, avó, madrinha, senhora da padaria, senhora com quem nos cruzámos no passeio que se riu ao vê-la de mão dada com o irmão...), anunciou que já era mais velha e que estava desdentada e que já era mais velha... e no momento de se deitar, de colocar o dente debaixo da almofada à espera da fada dos dentes, foi perguntando se ela conhecia o Pai Natal, se fazia barulho e, baixando a voz com os olhitos assustados, se eu tinha tido medo quando a fada dos dentes levou o meu dente, se funcionava também pôr o dente debaixo da minha almofada, no meu quarto...
Todos os dias descubro que ser mãe é mesmo assim: orgulhas-te da tua menina que está tão crescida e divides a tua almofada com um dentinho, enquanto aguardas a chegada da fada dos dentes, conhecida do Pai natal!
Já lá vai o espírito natalício, a azáfama, as filhós, os presentes, agora é já tempo de preparar outra festa, outra celebração, no entanto aqui, em o outro lado da montanha, ainda nada se disse sobre o Natal e não é por falta de assunto ou inspiração, mas, apenas, porque o tempo insiste em me escorrer por entre os dedos.
Como tem acontecido nos últimos anos, o Pai Natal apareceu de repente e, mais uma vez, o papá estava na casa de banho. Como tem acontecido nos últimos anos, houve alguma vergonha a falar com o Pai Natal, que teve direito à declamação da peça de teatro "A ceia de Natal", algum nervoso miudinho e excitação na apresentação do mano ao Pai Natal e, ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, algum tempo depois do Pai Natal ter ido embora houve revelações inovadoras: "O Pai Natal é muito parecido com o meu pai... acho que o Pai Natal é o meu pai mascarado..." "O quê? O Pai Natal é o papá? O que é que disseste?- gritámos todos mais ou menos alarmados e a resposta crescida "Já estou a ficar farta desta conversa... vamos falar de outra coisa. Eu sei que o Pai Natal é uma pessoa que vive muito longe, no Pólo Norte." Fim de conversa.
...aqui, deste lado da mont cxzza<anha.
Princesa: Mamã, como se chama a tua professora?
Eu: Ó filha, eu é que sou a professora, não tenho nenhuma professora.
Princesa: Porque é que tu és professora?
Eu: Porque escolhi ser professora.
Princesa: Eu vou escolher ser doutora-cabeleireira... (Até agora, as escolhas foram, por esta ordem, dentista, esteticista, doutora, cabeleireira, pai-natal e, agora, doutora-cabeleireira)
Eu: Boa ideia, amor.
Princesa: E para a outra vez(), quero ser noiva e princesa!
...aqui, deste lado da montanha.
(...e este post é dela!!!)
SOFIA
SOFIA
(e como vêem o ben-u-ron fez efeito)
...aqui, deste lado da montanha.
Que m¨¨¨a de praga é esta que não consigo que os meus amorzinhos fiquem bem? Ainda estava no consultório da enfermeira com o bebé, a contar das dores da noite e a preparar-me para o pós-vacina, e já estava a receber telefonema da creche da Pompinhas, que estava (novamente) com febre! Chiça!! É caso para dizer "eu não acredito em bruxas, mas que as há, há!"
...aqui, deste lado da montanha.
A minha princesa ontem foi ao cinema pela primeira vez. A minha princesa tem quatro anos, acabadinhos de fazer. A mãe da minha princesa foi ao cinema (na verdadeira acepção da palavra, e não enquanto sinónimo de projecção em lençol branco, no salão de bailes da aldeia) aos dezoito anos.
A geração dos meus filhos tem de ser boa, tem de ser, não posso não acreditar nisso. E, ao pensar nisso, uma pessoa fica cheia de expectativas, é como se lhe estivesse a dar o mundo.
E, para além desta alegria e inveja, tive outras invejas. Do pai, que pôde ir com ela, enquanto eu tomava conta do beberrucho. E dela, que pôde ir com o pai, sozinha... Percebem? Eu e o pai? Sozinhos?!! Isso, ainda, existe???
...aqui, deste lado da montanha.
Estou triste com a minha Princesa.
Esforço-me, esforço-me, mas todos os dias tenho de ralhar com ela, pô-la de castigo...
Parece-me que a toda a hora. O que se passa com ela? O que se passa comigo? Às vezes parece que vou dar em doida e só me apetece...
... aqui, deste lado da montanha.
Educar é um caminho tortuoso, esburacado, cheio de entroncamentos e espaços para inversões de marcha. E, no entanto, mesmo ao lado, uma via rápida para a qual, às vezes, apetece fugir, mas que não conduz, nunca, à educação.
Não percebi isto hoje, mas nas viagens que tenho feito pelo tal "caminho de cabras" que tenho percorrido nos corredores das escolas onde já estive, numa tentativa, nem sempre (quase nunca!) bem sucedida de educar.
Mas educar um filho é muito mais do que percorrer este caminho sinuoso, porque, a cada curva, buraco, poeira, nevoeiro, aparece o amor a empurrar-nos para a via rápida. E, de repente, aquilo que criticas nos outros é aquilo que fazes também. E, de repente, quando um amigo te diz aquilo que fazes, visto pelos seus olhos, percebes que estás errada e que tens de fazer inversão de marcha, porque, em algum ponto do caminho, tomaste a direcção errada.
E aceitar que se erra também é dar mais um passo para a educação.