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Fomos à Biblioteca Municipal. Peguei no miúdo. Escondi a tristeza de quem não pode continuar a fingir que tem dinheiro para comprar livros todos os meses e lá fomos. À chegada, um aviso prometia-nos o paraíso.
Lá dentro, a desilusão.
Não sei por que não saí assim que senti o cheiro de livros quietos nas estantes. Não sei porque não saí quando vi as mesas despidas de livros, com uma ténue camada de pó a anunciar a falta de uso. Não sei por que não saí, quando a senhora na receção me disse, desolada, que os computadores não sei o quê, e não conseguia imprimir e não havia, afinal, cartão de leitor. Não sei porque não saí quando a senhora me disse, conformada, que não havia livros novos... há meses. Fizera-se a Biblioteca. Um edifício majestoso, a ocupar o espaço todo, a ver-se em toda a volta. Não sobrara dinheiro para os livros.
Confesso que me envergonhei por ter levado o meu filho. Não queria que ele ficasse com aquela impressão de que a Biblioteca é aquele lugar deprimente, vazio e solitário. Como é possível que eu leve o meu filho a uma qualquer livraria e ele me peça este e aquele e o outro livro, e quando eu o levo à biblioteca ele me pergunte duas vezes se já podemos ir embora? Sniff..
À saída apetecia-me corrigir o cartaz:
AVISO: a leitura precisa seriamente de livros!
Ah e tal, porque não tenho tempo para ler. Ah e tal que ler é para ti que tens tempo! Hoje fui à praia. Para lá da areia na toalha, que eu odeio, estavam à minha volta umas quinhentas pessoas. Para além das cem que passeavam as gordurinhas em biquinis minúsculos e das outras cem que se davam ares de desportistas, havia cinquenta que brincavam, tomavam conta, ralhavam, com os filhos, e as restantes duzentas e quarenta e seis não faziam nada. A ler, a ler, estava eu, um inglês, um miúdo que lia o Correio da Manhã (nem sei se devia valer...) e uma adolescente. Ah! Pois, o tempo é mesmo o que fazemos com ele...
...aqui, deste lado da montanha.
De alma partida. A vontade de escrever de paixões, de vidas paralelas que se cruzam com a minha, de personagens que nos entram em casa e fazem parte de nós, de escrever das folhas que nos correm por entre os dedos até ficarem gastas e sumirem, das palavras que se nos colam à pele e, às vezes, nos atormentam, para, às vezes, nos libertarem. Vontade de escrever de livros.
E no mesmo dia mundial do livro, o abismo que milhares de professores enfrentam. Colegas, amigos, familiares à espera de não caírem, a ver os dias de hoje como os dias bons de antigamente.
De alma partida, refugio-me nos livros.
...aqui, deste lado da montanha.
Hoje apetece-me ler. Ler coisas de pessoas a sérios. Não quero personagens. Não quero vidas que são aquilo que outros querem que sejam. Apetece-me ler pessoas.
Gosto demais de histórias de pessoas, não de livros. Dos livros, gosto de palavras.
...aqui, deste lado da montanha.
Adoro ler. Os meus dois, vá lá três leitores sabem disso. Já o devo ter dito. Ou adivinha-se.
Bem, na verdade, gosto mais de ler do que escrever e às vezes, quando tenho tempo para ter pouco tempo, delicio-me a ler blogs. Há alguns tão bons! Podia perder-me durante horas na blogosfera. Hoje tive um bocadinho de tempo para ter pouco tempo e fui ler algumas coisas dos blogs dali do lado. Há tanto tempo que não tinha tempo para ter pouco tempo, que alguns se tornaram privados, outros se mudaram e outros morreram .
Os que sobreviveram continuam bons, muito bons!
...aqui, deste lado da montanha.
Sabem bem, ou pelo menos desconfiam decerto, que não acredito nada nessa história da imagem que vale mil palavras. As palavras são tão múltiplas que nunca poderiam ser só mil. Mas hoje, sem tempo para estas palavras. Deixo-vos a imagem e corro para as outras mil, e mais mil, e mais mil, e mais mil... palavras.
Respeito os leitores que não fazem dobras nos livros, para não os estragarem; os leitores que não riscam os livros, para não os estragarem; os leitores que não dobram os livros, para não os estragarem; os leitores que não levam os livros a passear para lá da beira da cama, da estante do escritório, para não os estragarem. Respeito até os que não lêem os livros, para não os estragarem.
Já eu, estrago todos os meus livros: não os sublinho, quando não tenho canetas à mão; dobro-os em todas as páginas que me marcam, retribuindo-lhes a marcação; levo-os e espalho-os pela minha vida... E depois, mais dia menos dia, tropeço neste ou naquele, e leio partes das páginas que fui dobrando, assinalando, marcando. E eles, os livros, retribuem-me sempre as minhas visitas fugidias. Respondem-me. Gritam-me.
"As coisas que parecem ter passado são as que nunca acabam de passar"
A Caverna, Saramago
este fim-de-semana quebrei as regras. sou ícaro a voar em direção ao sol. aventurar-me a ir para lá dos limites que me estabeleço mentalmente torna-se, por vezes, irresistível.
não é que não goste de quebrar as regras. gosto. mas, por vezes, vezes demais, o preço a pagar é alto demais e o tempo é tempo demais: pequenas fugas com grandes consequências.
ainda não decorridos oito dias do meu livro do mês, cedo à tentação e deixo-me ir presa a está máquina. espero que não se me derretam as asas.
post scriptum com sabor de justificação: valter hugo mãe escreve tudo a minúsculas.
Tinha tantas saudades de escrever no outro lado da montanha, que me apetece vir até cá a toda a hora, a propósito de tudo e de nada. Depois, tenho tanto sobre o que escrever, mesmo que abolutamente fora do timing...
Assim, hoje resolvi escrever de sombras. 50, para ser mais precisa. Pessoalmente encontro-lhe muitas mais do que 50, uns milhares de sombras que se enliam em clichés, baratos, baratos, a assemelhar-se a uma versão XL das Bianca e Sabrina que devorei na minha adolescência: rapariga ingénua, pobre e virgem e rapaz vivido, rico e experiente.
Enfim, como uns bons milhares, caí na armadilha da curiosidade, instigada pelo isco do BDSM, e lá fui lendo o 1º da trilogia, incentivada pelo lado erótico-pornográfico da maior parte das páginas... O segundo obriguei-me a ler. Afinal, tinha de haver mais qualquer coisa, que eu não estava a conseguir captar, para justificar o tal sucesso de vendas.
Obriguei-me a ler, vejam só...às vezes imponho-me cada castigo!! Resultado: nada, absolutamente nada, para além de uma mísera literatura de cordel. Apenas a lembrança do maravilhoso professor António Branco (sim, porque eu tive muitos professores maravilhosos): "um bom livro não é aquele que vende muito; nunca se soube que se tivesse que anunciar aos sete ventos o número de edições de um Eça, de um Saramago, de um Pessoa!"
À parte isto, julgamentos e opiniões que são tão meus que, só por isso, valem aquilo que valem, não julgo ninguém por aquilo que lê, mas apenas pela intensidade com que o faz.
...aqui, deste lado da montanha.
ausentei-me. de todos, mas mais ainda de mim. de tudo, mas mais ainda do outro lado da montanha. as razões, transcrevo-as pra evitar grandes explicações. às vezes um pequeno plágio evita grandes posts.
"-Esta mania de as pessoas se sentirem vítimas e merecedoras de compaixão é muito tóxica. Não quero que me achem vítima de coisa nenhuma. É uma falta de pudor andar a exibir a tristeza como um braço engessado."
Guicas, in AGORA
...aqui, deste lado da montanha.