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E, quando chegada a casa, tomados os lanches, acabados os trabalhos de casa, a tua filha vai para o quarto dançar e o teu filho vai para o quarto brincar às histórias com os carrinhos e heróis imaginários, só podes sentir-te imensamente orgulhosa por vê-los crescer sem estarem completamente dependentes da televisão, ou de ecrãs de qualquer tipo que lhes fritam os cérebros e os transformam numa espécie de zombies formatados pelos "Grandes Irmãos".
Nenhum programa de televisão, nenhum jogo informático, por mais educativo que seja, será alguma vez tão bom como a própria imaginação!
Agora, desculpem lá!, vou ali dançar um bocadinho com a miúda e criar uns caminhos secretos na floresta inventada do miúdo...
...aqui, deste lado da montanha.
Julgo que todas as mães, até mesmo aquelas que, como eu, acreditam que a educação é um processo cheio de avanços e recuos e com tantas aprendizagens para os filhos como para os pais, até mesmo essas mães que, como eu, não têm certezas e hesitam, até mesmo essas mães, tal como eu, um dia pensaram que os seus filhos não iriam gritar, nem fazer birras em público, nem diriam em casa dos amigos que não gostam da comida, pensaram que os filhos não iriam põr os pés em cima das cadeiras, nem iriam ter os brinquedos desarrumados, nem, no limite, estragar documentos importantes na casa dos outros... Enfim, tal como diz uma amiga minha, que nunca vem ver o meu blog, os filhos dos outros parecem sempre piores do que os nossos. Concordo com ela.
Às vezes há dois miúdos a brigar, mas se calha um deles ser o nosso filho, não há dúvidaque o outro é o bruto, mal-educado que levou o nosso a defender-se...
A propósito, exclusivamente, dos meus filhos:
Toda a gente sabe que os filhos são ternos
Que são espertos a valer
Até mesmo sem querer
Não riscam cadernos, não riscam cadernos
Toda a gente sabe que os filhos são ternos
Toda a gente sabe que os filhos são lindos
Deixam os pais conversar
E com os amigos falar
E sempre sorrindo, e sempre sorrindo
Toda a gente sabe que os filhos são lindos
Mas os filhos das outras não,
Porque os filhos das outras são
O exemplo da má-criação
Um erro de educação
Cruéis criaturas
De outra espécie feroz
Que servem para fazer maldades
Até aos próprios avós
Tudo o que os filhos são
(Tudo o que os filhos são)
Os filhos das outras não
Toda a gente sabe que os filhos são tudo
Gostam de músicas que estão na moda
Nunca comem sem o talher
Um super-miúdo, um super-miúdo
Toda a gente sabe que os filhos são tudo
Toda a gente sabe que os filhos são elegantes
Que comem muitos legumes
E nunca deixam a sopinha
Na na na na na, na na na na na
Toda a gente sabe que os filhos são elegantes
Mas os filhos das outras não,
Porque os filhos das outras são
O exemplo da má-criação
Um erro de educação
Cruéis criaturas
De outra espécie feroz
Que servem para fazer maldades
Até aos próprios avós
Tudo o que os filhos são
(Tudo o que os filhos são)
Os filhos das outras não
...aqui, deste lado da montanha.
Não depende de mim. Não está nas minhas mãos. Apenas acontece ser desta forma. Nestes dias não há nada que eu possa fazer. Qualquer coisa que eu tente fazer, eles exasperam-me. Gritam no café. Sentam-se com os pés em cima das cadeiras. Zaragatam por causa de uma batata frita. Molham-se na casa de banho. Despejam os cremes no bidé. Fazem xixi pela casa fora. Atiram com a roupa ao chão. Fazem birras na loja. Sujam-se com tintas. Riscam os meus livros. Lutam por um lugar no sofá... A sério... nunca mais é hora de irem dormir !
...aqui, deste lado da montanha.
Acordo angustiada. Um pesadelo. Desta vez com a minha filhota. Sonhei que me tinha esquecido dela adormecida num apartamento em Coimbra. Como é que é possível? Esta angústia, este sofrimento? Como é possível sonhar que me esqueceria dela?
Ando atormentada por julgar que vezes demais sou exigente demais. Quero sempre que ela seja educada, que tenha maneiras, que se porte bem.
Acho que vivo atormentada pelos muitos miúdos com quem lido diariamente e a quem faltou, e falta, uns limites. Os miúdos não são maus, não têm má índole, mas, alguns, perderam a noção de quais são os limites, de até onde podem ir. Fazem coisas maravilhosas, sabem muitas coisas, mas perdem-se "pelas laterais".
Eu não quero que os meus filhos se percam, mas também não quero que eles me vejam como inflexível, exigente, dura... Ah! Educar é tão difícil! É tão mais fácil deixá-los comer com as mãos, sair da mesa quando querem, adormecer no sofá à hora que querem, é tão mais fácil. Decerto não teria pesadelos...
...aqui, deste lado da montanha.
Eu queria poder voltar a estudar mais um bocadinho, mas hoje é tão caro ser estudante como há 25 anos atrás. Juro que se a recompensa de ter boas notas fosse continuar a estudar, como há 25 anos atrás, eu teria as melhores notas da turma, como há 25 anos atrás... Não sendo assim, resta-me encontrar um Mestrado bem, bem baratinho, ou ir aos saldos e torcer para que não tenha defeito.
...aqui, deste lado da montanha.
Eu sei, eu sei, tenho parado pouco por aqui, mas o trabalho tem sido mais que muito agora que as aulas acabaram. Certas pessoas ficariam surpreendidas com a quantidade de trabalho que há nas escolas, assim que os meninos vão para casa. Ah, pois é!
Hoje e ontem, no entanto, fiz uma pausa nas reuniões, relatórios, projectos pós-aulas, documentos, exames, preparação do próximo ano lectivo e fui... à praia? à piscina? passear? ao cinema? ao teatro? NÃO! Às Jornadas Pedagógicas. Certas pessoas ficariam surpreendidas com a quantidade de formações que temos de fazer - o que não é mau!- e pagar - o que é mau!!
Não quero aqui deixar registo das horas intermináveis de discursos vazios, gastos e, por vezes, ofensivos, em que, confesso, me deixei adormecer, levada por noites mal dormidas, vozes monocórdicas e uma penumbra acolhedora. Não, não quero aqui deixar registo de queixas e lamentos. Isso começa a fartar-me.
Vou, pois, cometer três erros básicos da vida de um blog: ser optimista, plagiar e escrever um post longo.
Amei os senhores que se seguem, pelo que disseram, mas, principalmente, pela forma como o disseram. Ouvia-os, embevecida, e pensava "também quero ser assim, também quero ser assim".
Nuno Lobo Antunes:
"na minha altura as raparigas só tinham de ter duas qualidades para serem bem sucedidas - serem razoavelmente bonitas e razoavelmente virgens"
"eu entrei em medicina com uma média de dez, hoje é preciso ter média de dezanove, ou seja, é preciso ser-se estúpido - e não fazer mais nada na vida"
"só há três razões para uma criança não aprender a ler: é burra; o professor não presta; tem dislexia"
E esta, que me fez lembrar logo uma certa amiga, que não vem ler o meu blog: "a autoridade é fonte de segurança, quando as crianças conhecem os seus limites são imensamente mais felizes"
"uma palavra de um professor pode marcar indelevelmente e para sempre um aluno"
José Miguel Oliveira:
"há muitos anos que sou professor, ou seja, há muitos anos que comunico o meu desconhecimento"
"rude com os problemas, sensível com as pessoas - Gandhi"
"se fizeres o que sempre fizeste, obterás o que sempre obtiveste - Benjamin Franklin"
David Justino:
"hoje não há tempo para pensar"
"um professor, para além de um ensinador, é um exemplo"
Carlos Gonçalves
"educar é um acto de criatividade, de persistência, de questionamento e de amor/ternura sem limites, envolvendo vários actores"
"é preciso ser crítico face aos «vendedores» de opiniões"
Se é bom ser professora? É!
E agora vou tentar dormir porque amanhã, de manhã, vou passear com os meus meninos da unidade de multidefeciência e, de tarde, vou ter reunião geral e, depois, reunião de departamento. No sábado, na segunda e na terça volto a ter formação, interrompida para uma visita à CERCI... Os professores não fazem nada...
...aqui, deste lado da montanha.
Estou triste com a minha Princesa.
Esforço-me, esforço-me, mas todos os dias tenho de ralhar com ela, pô-la de castigo...
Parece-me que a toda a hora. O que se passa com ela? O que se passa comigo? Às vezes parece que vou dar em doida e só me apetece...
... aqui, deste lado da montanha.
Educar é um caminho tortuoso, esburacado, cheio de entroncamentos e espaços para inversões de marcha. E, no entanto, mesmo ao lado, uma via rápida para a qual, às vezes, apetece fugir, mas que não conduz, nunca, à educação.
Não percebi isto hoje, mas nas viagens que tenho feito pelo tal "caminho de cabras" que tenho percorrido nos corredores das escolas onde já estive, numa tentativa, nem sempre (quase nunca!) bem sucedida de educar.
Mas educar um filho é muito mais do que percorrer este caminho sinuoso, porque, a cada curva, buraco, poeira, nevoeiro, aparece o amor a empurrar-nos para a via rápida. E, de repente, aquilo que criticas nos outros é aquilo que fazes também. E, de repente, quando um amigo te diz aquilo que fazes, visto pelos seus olhos, percebes que estás errada e que tens de fazer inversão de marcha, porque, em algum ponto do caminho, tomaste a direcção errada.
E aceitar que se erra também é dar mais um passo para a educação.
Tenho esta teoria um pouco louca, um pouco séria de que todas as mulheres são princesas e bruxas, apenas a proporção de uma ou de outra é variável. Por vezes mostramos mais o nosso lado princesa, outras vezes, comparada connosco, a bruxa má da Branca de Neve é a Madre Teresa de Calcutá...
Isto tudo, não para falar sobre mim, mas para falar da Princesa cá da casa. Como se adivinha, ela é a minha mais-que-tudo, é o meu amor incondicional. E, talvez por isso, o seu lado princesa é sempre o que impera. MAS, ontem descobri que a minha filha, como qualquer ser do sexo feminino, também tem o seu ladozinho de bruxinha. Que super-birra que ela fez! Sabem aquelas birras que nós usamos para definir as crianças mal-educadas? Ela conseguiu fazer tudo: atirar coisas ao chão, chamar-me nomes (vá lá que o palavrão mais ofensivo que ela conhece é feia...), dar pontapés nas portas, paredes, cadeiras, atirar-se ao chão, puxar as orelhas e arranhar-se (crise de auto-mutilação), gritar até ficar sem voz, ameaçar-me (Vou arranhar-te!!). Isto durante uns dez minutos e já de castigo no quarto. Se me contassem, eu não acreditava...
Resultado: está de castigo, sem ver o Panda (atenção, que isto é terrível) até me passar a recordação das cenas tristes.