Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Eu não sou nada destas coisas. Sou exigente demais, bruta demais. Não gosto que eles se agarrem a mim. Reclamo quando se portam mal, quando fazem barulho, quando falam muito.
E, depois, há dias assim, com alunos ainda mais assim, que dá vontade de trazer para casa e dar colinho, muito colinho. Raio de vidas!! Raio de miúdos a terem de ser graúdos! Raio de graúdos a agirem como miúdos!
...aqui, deste lado da montanha.
Desiludo-me. Os dias têm-se sucedido mais ou menos iguais neste sentimento que se vem apoderando de mim. Não sou uma boa mãe, não sou uma boa mãe, não sou uma boa mãe... Esforço-me imenso para me contentar com as birras dos meus filhos, com as gracinhas dos meus filhos, com a dependência dos meus filhos, com a autonomia dos meus filhos. Mas não consigo. E sinto remorsos e tristeza, porque no meu esforço para que tudo nos meus filhos me seja suficiente cada vez entendo melhor que isso nunca me é suficiente. Quero sempre mais, quero sempre o que está para lá dos meus filhos, ainda que sempre, sempre, com os meus filhos. É como se tivesse a certeza que aquilo que eu sou para lá do que se resume a ser mãe é muito mais e melhor do que ser apenas mãe. E isso, que eu sou para lá do que se resume a ser mãe faz de mim muito melhor mãe.
Desiludo-me. Todos os dias. Invejo as mães descomprometidas, sem dúvidas, sem receios, incondicionais, a toda a hora, a toda a hora.
E, no entanto, quem poderá dizer que eu amo menos os meus filhos por viver fragmentada, tentando encontrar-me no quotidiano como mãe?
... aqui, deste lado da montanha.
O lado sombrio de mim talvez seja igual a todos os lados sombrios que querem avançar para lá do cículo seguro das regras invioláveis. Já houve uma altura em que quebrei regras e baixei os braços, mas, nessa altura, fui excessivamente infeliz. E isso resume toda a minha vida.
ao fim de 31, quase 32, anos de escola, continuo a detestar trabalhos de grupo. Mil razões que todos conhecem, duas ou três por causa deste meu lado autista às escondidas. Logo vou ter de apresentar um. Não apetece!
Socorro! deixem-me ficar no sofá a fazer renda.
...aqui, deste lado da montanha.
Se, até agora, ao ouvir a palavra cota aplicada a mim, me debatia entre um misto de insatisfação e vontade de me rir, ao aperceber-me que o tempo passa por mim, deixando, também, as suas marcas, esta palavra assume hoje um significado novo que me enche de raiva, revolta e frustação. Nunca imaginei que as incongruências e erros deste modelo de avaliação de professores me pudessem deixar tão triste.
Considero que sou uma professora muito boa, não excelente, não boa. Quem me avaliou considerou que sou uma professora muito boa. Tive uma classificação muito boa, 8,7, em dez. No entanto, as cotas não deixam que eu tenha Muito Bom, então, reparem só, a minha classificação desce até ao máximo do Bom, ou seja, fico avaliada em 7,9.
Isto pode até não parecer grave, mas é! De repente, sem querer, sem o merecer, o meu trabalho é avaliado da mesma maneira daqueles que nem sequer pediram para ter aulas assistidas, que não organizaram atividades, e que até se contentam com o Bom.
Isto pode até não parecer grave, mas é. Eu explico de outra forma: imaginem que o vosso filho se esforça, estuda e trabalha acima da média e merece uma avaliação de 17,4, em vinte, mas o professor dá-lhe a classificação de 15,8, porque, já atribuiu os 17 todos a que a turma onde ele está matriculado tem direito, logo, ele tem de ter 15,8. Triste, não??!Se os professores avaliassem os alunos por cotas, a maioria das pessoas iria compreender porque os professores estão descontentes com este modelo de avaliação. Era ver:
"Ah! então o meu filho teve os testes todos positivos e teve negativa?"
"Sabe, eu já dei as positivas todas nesta turma, por isso, ele tem de ter negativa. Reprovou por causa disso?! Tenho pena, se ele fosse de outra turma..."
O pior mesmo é que se ele estivesse matriculado noutra turma poderia ter a classificação que merecia. Sim, a escola aqui do concelho do lado tem cotas suficientes para eu ter Muito Bom...
...aqui, deste lado da montanha.
Irra! É assim tão difícil ficar sossegadinho em casa a viver dos rendimentos (escassos, é verdade!, mas rendimentos)???!! Temos sempre de arranjar maneira de não nos contentarmos com o que temos e sair à procura do inesperado?
Mania de ser maluca!Mania de seres maluco!
... aqui, deste lado da montanha!
Os outros não páram de me surpreender. Choca-me a falsidade com que alguns outros falam, choca-me a falsidade com que alguns outros vivem. Convencem-se, tristes, que essa falsa vida em que vivem é a verdadeira. A falsidade destes outros, lembra-me a traição de outros outros.
Choca-me, magoa-me, entristece-me a traição e, ainda mais, a traição daqueles outros que me são tão, tão próximos, que chegam quase a não ser outros, que acreditam que aquilo que fazem não é traição. Pegando nas palavras do meu poeta querido, apetece-me dizer "chegam a fingir que é traição / a traição que deveras cometem"...
...aqui, deste lado da montanha.
Ó psstt, ó faz favor, ó senhores deuses, janeiro já acabou, não é? Já vai sendo tempo de virar esta página de doenças e noites mal dormidas, não??!
Agora, vou ali tirar a febre a um enquanto rezo para que o outro adormeça, sem grandes choradeiras, porque as reservas da paciência estão mesmo a terminar.
...aqui, deste lado da montanha.
Terminei há pouco o muito falado (vendido? lido?) livro Comer, Orar, Amar. Tem ideias pouco originais numa estrutura de livro de auto-ajuda, claramente bem classificado,original. Para além do teor acessível, é auto-biográfico e isso, só por si, já soma pontos, porque todos temos interesse em saber um bocadinho da vida dos outros, ainda mais se se trata de uma gaja, mais ou menos com a nossa idade...
Enfim, numa altura em que, a avaliar pelos últimos posts, até precisaria uma pouco de fomentar a minha auto-estima, dou comigo a saltar parágrafos inteiros nas páginas finais, ansiosa por terminar, não com a ânsia que aperta o peito e te faz querer chegar ao fim de um livro, mas apenas para começar rapidamente outro. Resumidamente, sendo que nisto dos livros, se se podem resumir algo está errado, uma mulher, trintona, a mãos com uma crise pessoal, familiar e social decide partir mundo fora para "lavar a alma" (comer, orar, amar).
Também eu, sem partir, o que implica um esforço muito superior ao da protagonista, travo uma luta diária para comer uma refeição completa, para orar pela saúde de todos cá em casa, para ter um tempinho para amar.
Se acham difícil abandonar tudo e todos, partir sozinha, durante um ano, para países tão pouco interessantes como Itália, Índia e Indonésia, deviam tentar ter filhos, ter uma profissão, ter uma casa e um grande amor para cuidar. Aí, sim, é preciso uma grande livro de auto-ajuda...
...aqui, deste lado da montanha.
Mais um dia maravilhosos acordada pelos gritos dos meus filhos.
Objectivo para o dia de hoje: chegar depressa às 21:30 para os pôr a dormir.
Pelo caminho, duas coisas que eu amo fazer: as compras do mês e a roupa para passar.
Acho que o dia hoje vai ser bom...
...aqui, deste lado da montanha.