Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Chegou ao fim o meu ano auto-imposto sem comprar roupa ou sapatos... Ontem atrevi-me a perder-me por entre lojas e montras, provadores e corredores de centros comerciais.
Primeiro, devo dizer que levei as duas horas que me ofereci com a sensação estranhíssima de que me faltava qualquer coisa, do género "ainda vais demorar muito, mãe?", "vais ver a loja toda, mãe?" e, no limite, "quero água", "tenho fome", "quero fazer xixi". Ou seja, não sei o que é entrar numa loja sem que me chamem, me interrompam, me levem a correr pela loja fora à procura deles por entre cabides e camisolas...
Segundo, lembrei-me constantemente duma história que li há poucos dias nas redes sociais. É a conversa entre marido e mulher de casamento de vários anos em que a mulher o acusa de beber todos os dias e de, assim, gastar muito dinheiro ao fim do mês e, consequentemente, ao fim do ano. Tanto dinheiro que, ao fim daqueles anos todos de casamento, daria para comprar um Ferrari. E ele pergunta-lhe: "Tu bebes?" E ela: "Não!" E ele pergunta-lhe: "Então, onde está o teu Ferrari?".
Foi assim que me senti ao fim deste ano... Se levei um ano inteiro sem comprar uma pecinha de roupa, uma t-shirtezinha na feira dos trinta que fosse, ou uns chinelos de praia made in loja do chinês, porque é que não estou rica? Porque é que chego a setembro com os mesmíssimos escassos cêntimos que no ano passado me levaram a tomar esta decisão?
...aqui, deste lado da montanha.
Se este fosse um blog organizado, agora eu remetia os meus dois, vá lá três, leitores para o link de um outro post, onde eu escrevi que, rendida aos conselhos dos amigos e do marido, e vencida pelo lado estético da coisa, comprei uma máquina nespresso, no entanto, como o outro lado da montanha é meu, para mim, e eu sei que, contrariada, comprei uma máquina nespresso, e também porque não faço a menor ideia de qual é esse post, vamos ao café.
Admitamos, as máquinas nespresso são uma treta. Primeiro, encomendar café pela net não é prático. Se fosse, nós nunca teríamos de andar a pedir emprestado porque o nosso acabou de repente (e nós nos esquecemos de pedir mais), ou temos um jantar em que em vez de dois somos quatro (e nós íamos mesmo encomendar o café logo à noite). Segundo, o café é caro. O contra-argumento é que não é tão caro como num café. Pois, mas também ninguém se lembra de ir com vinte ou trinta pessoas pagar-lhes o café num café, certo? E para quem até costumava tomar o café em casa, claramente, é muito caro o café nespresso: 100 doses davam, cá por casa, para uma média de 40-50 dias. Ora, trinta e cinco euros parece-me quase empréstimo de carro para pagar... Terceiro, sempre que bebia um café, apetecia-me ir tomar um café lá fora. Não é que eles não sejam bons. São. São bons, assim como uma sobremesa, a saber a café, à base de café, feita com café...
Então, fiquei dois meses sem encomendar, passei pela Worten e comprei a máquina mais barata que lá estava (ainda sobraram dez euros). A máquina é péssima: de plástico, leve, pouco potente, mas o café é... um espectáculo! E não sabe a café... é café!
...aqui, deste lado da montanha.
Gostei do centro comercial - Dolce Vita Tejo - é espaçoso e não me dá aquela claustrofobia do Colombo, no entanto, tem o problema dos grandes centros comerciais: é tudo tão longe...
Se vais almoçar, e andas 500 metros para chegar à área da restauração, e te lembras que tens de lavar as mãos, e andas mais 500 metros, e depois voltas para a tua refeição, e andas mais 500 metros, e quando chegas, o bebé precisa de mudar a fralda, e andas mais 500 metros, e depois voltas à tua refeição, e andas mais 500 metros, quando voltas para as compras, e andas mais 500 metros, consegues vestir um número abaixo do teu...
...aqui, deste lado da montanha.
Pertenço àquele grupo de mulheres, raríssimas, que não gostam de ir às compras. Não gosto. Para verem como é, detesto os saldos: centenas de pessoas dentro de uma loja com capacidade para dez, a revolver montes (literalmente falando) de roupa, com mulheres quase a descabelarem-se por uma t-shirt... não aguento! Não tenho paciência para a escolha e, quase sempre, me arrependo das compras que fiz. Falta-me olho... Conheço uma menina, também filha dos meus pais, que entre 501 peças feias, enormes, minúsculas, defeituosas e foleiras, consegue encontrar a única peça vestível. Eu, não tenho olho... Vou às compras porque preciso, pago o primeiro preço e, normalmente, até compro os conjuntos que estão nos manequins, porque não tenho paciência para escolher o que é que combina com o quê...
Ora, quem já passou pela experiência de retomar o trabalho depois de uma gravidez e de uns meses de licença sabe bem que ir às compras se torna uma necessidade. Lembrei-me, então, de comentar com o homem da casa (a pessoa mais avessa a compras de todas as que conheço) que tinha de tirar um dia para ir às compras. Eu devia logo ter desconfiado que a resposta dele não se enquadrava na realidade, mas, crente e optimista, achei uma boa ideia quando ele respondeu "como tenho de ir a Lisboa, levo-te e depois tomo conta do bebé para fazeres as tuas compras".
Fomos às compras. Ele deixou-me no centro comercial, com o bebé, e foi à vida dele. Quando chegou, andava eu a comprar roupa para os miúdos que não param de crescer (o bebé tem 4 meses e já veste roupa para 9 e 12 meses, dá para acreditar?) e ele começou logo a dizer que tinha fome. "É melhor irmos comer", "vamos comer", "então, vamos comer?".
Eu: "Passamos só na Mango para veres como me ficam umas calças - precisava de uma opinião- e se o bebé chorar pegas-lhe ao colo..."
Entro nos provadores e ouço o bebé a chorar, depois silêncio. Saio e não o vejo.
Empregada: Precisa de alguma coisa?
Eu: O meu marido estava por aqui...
Empregada: Vou ver se ele está ali mais abaixo... Não. Saiu da loja. Pode ligar-lhe.
Eu: Não, ele não deve demorar...
Quando as funcionárias começaram a olhar para mim como se eu estivesse ali há tanto tempo que ameaçava tornar-me numa prateleira da loja, decidi sair dos provadores, sem a tal opinião...
Lá fomos almoçar e, a seguir, a pergunta "Ainda te faltam muitas lojas?"
Que raio de pergunta é esta, num dia que se tirou para ir às compras??!! Pegou no bebé e começou a arrastar os pés como um condenado a caminhar para a forca. Graças a Deus o bébucho fez cocó. Peguei nele, fui trocá-lo, dar-lhe leitinho e segui caminho... sem o pai. Pelo menos, assim, só tinha de ouvir um a reclamar. Voltou a aparecer quando eu já tinha escolhido as calças e, vá lá, ajudou na cor do casaco... Nada mau...
Sobrevivemos e aprendemos mais uma lição: compras a três só se for com a tal filha dos meus pais que tem olho para a coisa... Ou, então, se alguém conhecer um personal shopper muito, muito baratinho, agradeço...
...aqui, deste lado da montanha.