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O nosso escritório é, definitivamente, nosso. É a divisão da casa que menos usamos, devido à sua localização separada da casa, mas observando bem cada um dos seus pormenores bagunçados, desarrumados e, infelizmente, um pouco sujos, é o local onde nós temos mais de cada um de nós. Encontrar no mesmo sítio coisas que são tão minhas e coisas que são tão tuas faz-me pensar que aqui estamos nós com as nossas diferenças.
Num dos cantos há uma estante repleta de CD's de música: tu! Numa parede há estantes repletas de livros:eu! Espalhados, instrumentos de música, novos, do teu pai, que foste guardando: tu! Nas gavetas e armários, fotografias, álbums antigos, cadernos de memórias, versos: eu! Num espaço livre, a vespa que estás a reconstruir, há anos, porque o amor leva tempo: tu! No centro: espaço para dançar sozinha, a dois, a quatro, com os amigos, porque o tempo não me leva este amor pela dança.
Aqui e além, recordações: uma jarra de vidro, de Coimbra, uma escultura em pau preto, de Portimão, uma sofá-cama, de Samora, uma caixa de jóias vazia, da tia, uma caneca, da FAP, quadros, da República, uma colecção de vespas miniaturas, da tua paixão, colunas e fios, de todo o lado...
Este escritório é, realmente, uma bela fotografia de nós dois, mas o que torna esta foto perfeita é uma bola do Benfica e uma maleta da Floribella, adormecidas junto à pequeníssima secretária vermelha e ao quadro de plástico amarelo, ansiosas pelas mãos que lhes dão vida.
...aqui, deste lado da montanha.
Na minha abstinência forçada de bebidas alcoólicas , deprime-me ver alguém com os copos. A linha entre o estar alegre e o estar bêbado é demasiado ténue para se distinguir quando se está sóbrio e, provavelmente, quando se salta a linha, alguém sofre com isso.
...aqui, deste lado da montanha.
Não suporto gente que está sempre, sempre, sempre a queixar-se de tudo: o governo, o patrão, os colegas, a televisão, o tempo, a profissão, o que faz, o que não faz, as férias cá dentro, as férias lá fora... E conhecem sempre alguém que é um bom exemplo de tudo o que está mal! Esta gente vive mesmo? É que eu acho que estão tão ocupados a dizer mal que não deve sobrar tempo para mais nada.
Eles precisavam era de umas noites sem dormir e umas fraldas (daquelas muito mal-cheirosas) para trocar.
...aqui, deste lado da montanha.
Educar é um caminho tortuoso, esburacado, cheio de entroncamentos e espaços para inversões de marcha. E, no entanto, mesmo ao lado, uma via rápida para a qual, às vezes, apetece fugir, mas que não conduz, nunca, à educação.
Não percebi isto hoje, mas nas viagens que tenho feito pelo tal "caminho de cabras" que tenho percorrido nos corredores das escolas onde já estive, numa tentativa, nem sempre (quase nunca!) bem sucedida de educar.
Mas educar um filho é muito mais do que percorrer este caminho sinuoso, porque, a cada curva, buraco, poeira, nevoeiro, aparece o amor a empurrar-nos para a via rápida. E, de repente, aquilo que criticas nos outros é aquilo que fazes também. E, de repente, quando um amigo te diz aquilo que fazes, visto pelos seus olhos, percebes que estás errada e que tens de fazer inversão de marcha, porque, em algum ponto do caminho, tomaste a direcção errada.
E aceitar que se erra também é dar mais um passo para a educação.
Tem sido impossível deixar por aqui umas palavras, mas não podia passar sem assinalar esta coincidência. Na sexta-feira, após a análise de um texto (muito, muito bom, por acaso), pedia-se que se sugerisse um outro título. A minha explicanda, sem qualquer relação com este blog, sugeriu os outros lados da imagem. Arrepiante!...
Os outros lados (também?) da montanha? Se calhar quando chegamos ao cume da montanha percebemos que, afinal, ela não tem apenas só mais um outro lado, mas outros lados. Como as imagens. Cada um vê numa imagem o lado que o seu eu quer, e consegue, ler?