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É o hoje o dia em que passamos a pagar os sacos de plástico no supermercado, por ordem do governo, entenda-se, porque todos sabemos que já os pagávamos, ainda que não aparecesse o preço na fatura...
Gosto desta iniciativa. Já se sabe que a nossa vontade de sermos ecológicos e pouparmos o planeta só estica até aos limites do que o nosso comodismo nos impõe e, ainda que faça a triagem do lixo, com direito a cantinho ecológico cá em casa e tudo, ainda que tenha adotado a garrafa ecológica em detrimento das de plástico, ainda que me esforce por ensinar os meus filhos a poupar água, ainda que já tenha comprado uns dez sacos de fibra, estes ficavam sempre esquecidos na mala do carro e quando chegava a hora de pegar as compras o comodismo impunha-se e lá vinham mais uns quantos sacos de plástico.
Mas a semana passada, decidi-me. Criei enfim o hábito: arrumo as compras; arrumo o saco na mala... Fácil, fácil! Já não há esquecimentos.
E os sacos até são giros! E combinam comigo.
Por outro lado, sete cêntimos (preço de um saco de plástico no supermercado) vezes muitas vezes é muito dinheiro para um orçamento tão parco. Tal, como os sacos de plástico , afinal: sete sacos de plástico vezes muitas vezes é muito plástico para um planeta tão pequeno!
Lembro-me sempre de um episódio do CSI em que se investigava um roubo de 3 cêntimos... em 80 milhões de contas...
...aqui, deste lado da montanha.
Já tinha avisado. Os planos para 2015 só aparecerão a partir de meados do mês, mas há projetos ou, pelo menos, esboços de projetos.
Fizemos contas à vida. E as contas não batem certo. Não para mim. Não para nós.
Depois de um ano em que gastámos tudo o que pudemos em viagens a hospitais e em visitas que não podíamos deixar de fazer, porque ensombradas pelo terror de serem as últimas, chegámos à conclusão que temos de parar. Temos de fazer uma pausa em portagens e em gasóleo, em almoços à pressa em estações de serviço ou restaurantes de beira da estrada.
Decisão para este ano: ir menos vezes a casa dos pais, dos sogros, da mana, da família grande.
Estamos cansados de não estarmos em casa, na nossa casa, Estamos cansados de fazermos mals, desfazermos malas, refazermos malas. Estamos cansados...
Em contrapartida, aceitamos visitas!
...aqui, deste lado da montanha.
Chegou ao fim o meu ano auto-imposto sem comprar roupa ou sapatos... Ontem atrevi-me a perder-me por entre lojas e montras, provadores e corredores de centros comerciais.
Primeiro, devo dizer que levei as duas horas que me ofereci com a sensação estranhíssima de que me faltava qualquer coisa, do género "ainda vais demorar muito, mãe?", "vais ver a loja toda, mãe?" e, no limite, "quero água", "tenho fome", "quero fazer xixi". Ou seja, não sei o que é entrar numa loja sem que me chamem, me interrompam, me levem a correr pela loja fora à procura deles por entre cabides e camisolas...
Segundo, lembrei-me constantemente duma história que li há poucos dias nas redes sociais. É a conversa entre marido e mulher de casamento de vários anos em que a mulher o acusa de beber todos os dias e de, assim, gastar muito dinheiro ao fim do mês e, consequentemente, ao fim do ano. Tanto dinheiro que, ao fim daqueles anos todos de casamento, daria para comprar um Ferrari. E ele pergunta-lhe: "Tu bebes?" E ela: "Não!" E ele pergunta-lhe: "Então, onde está o teu Ferrari?".
Foi assim que me senti ao fim deste ano... Se levei um ano inteiro sem comprar uma pecinha de roupa, uma t-shirtezinha na feira dos trinta que fosse, ou uns chinelos de praia made in loja do chinês, porque é que não estou rica? Porque é que chego a setembro com os mesmíssimos escassos cêntimos que no ano passado me levaram a tomar esta decisão?
...aqui, deste lado da montanha.
Apetece-me pegar numas caixas, grandes, enormes, uns contentores e jogar fora tudo o que tenho em casa. Tralha, tralha, tralha! Sinto-me a afogar.
A minha casa assemelha-se muito a isto
só que com mais brinquedos!
...aqui, deste lado da montanha.
"Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."
...aqui, deste lado da montanha.
Já se sabe, não sou crítica confessa, dada a pretensões de Pedro Boucherie Mendes (de quem sou fã, admito) com a sua legião de milhares de seguidores para o bem e outros tantos seguidores para o mal, não sou fazedora de opiniões, nem de modas, nem de bolos, nem do que quer que seja.
Aquilo que aqui escrevo é para os meus dois, vá lá três, leitores, agora quatro, porque não posso esquecer o meu anónimo de Mountain View que insiste em permanecer anónimo...
São guerras minhas, é certo, mas quem não travou já uma guerra contra estes inimigos, ou não chegou aos vinte e não sabe o que é a celulite, ou não chegou aos trinta e não sabe o que é bolor. Esses, podem parar de ler, por favor e vão dar uma voltinha por aqui.
Aos outros dois, vá lá, três, agora quatro, leitores, este foi o inimigo que eu hoje tive de enfrentar:
Noutros tempos, usei contra tão feroz inimigo aquela que considerava a única arma possível: lixívia! Mas hoje, filhos alérgicos assumidos, para evitar (mais) idas ao hosital com crises de falta de ar, há que fazer experiências: este, porque toda a gente usa, e este, porque não tem cheiro.
O primeiro é excelente e imediato. Depois de dez minutos, não há pintinha preta para contar história, mesmo sem esfregar. Tem lixívia, sim, porque a minha roupa ficou toda manchada. O outro, mais demorado, é preciso esfregar, parece-me de atuação mais prolongada, do género de matar por dentro, mesmo que não se veja por fora, enquanto o primeiro é mais uma maquilhagem bem feita que elimina por fora, mas que me deixa algumas dúvidas quanto à duração. Usei o primeiro na casa de banho e cozinha e o outro no quarto do miúdo. Agora, esperar para secar e, depois, pintar a gosto...
Já agora, não esquecer de colocar luvas, óculos e máscara. Mesmo parecendo que não, estes produtos fazem os seus estragos na pele e nos olhos:
...aqui, deste lado da montanha.
Que o clima mudou, já ninguém tem dúvidas: calor em fevereiro, frio em maio... mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... e as limpezas. Assim, vão-se as limpezas da primavera, ficam as de verão.
Verdade, verdadinha: hoje eu podia estar na praia, de papo para o ar sem fazer absolutamente nada, a compensar uma semana sem tempo para me coçar. Podia, sim. Com, ainda, três relatórios por fazer, é certo, mas isto dos relatórios a gente tem de os guardar para a última hora ou ainda nos habituamos a fazer as coisas com tempo; por isso, podia. Ganhava um bronze suave, ficava com ar de quem tem boa vida, lia um livrozinho, do Gonçalo Manuel Tavares, para conhecer, fazia um crochet para a minha doce J., enfim "il dolce far niente"...
Mas, depois, tinha de pagar para me limparem as paredes, tinha de pagar para me pintarem as paredes, tinha de pagar para me deixarem a casa mais ou menos habitável. E nas férias ficava em casa a olhar para as paredes, limpas e pintadas, mas sem areia, nem piscina, nem sol, nem hotel...Fácil decidir, não é?
...aqui, deste lado da montanha.
Parece-me mesmo a propósito a recomendação da agenda do lar para o dia de hoje. Com este sol todo já dá vontade de arrumar de vez as roupas de inverno que já estiveram mesmo, mesmo, dobradinhas e embaladas, mas que, devido à interrupção brusca, lá tiveram de voltar aos armários. Agora, deve ser definitivo. Por isso aqui fica, do tempo das avós:
"Como combater as traças
Antes de arrecadar os seus vestidos e casacos de inverno limpe-os de nódoas e liberte-os de pó, porque a menor mancha ou menor traço de poeira é um chamariz de traças.
Costuras, bainhas, interior dos bolsos, tudo deve ser bem escovado e limpo.
Depois disto, embrulham-se os abafos, as peles, e tudo, enfim, que se limpou e não servirá senão no inverno, em papel de jornal humedecido com terebintina, pois a tinta de impressão, referçada com a terebintina tem um forte poder inseticida. Para maior intervenção pode-se meter a roupa assim embrulhada em sacos de papel não cosidos mas colados, para ser menos provável a entrada do insecto. No exterior de cada saco descreve-se o conteúdo."
Devo lembrar que mantenho a linguagem exata do que está escrito na agenda de 1964, com alterações de ortografia e, eventualmente, pontuação. De resto, é mesmo plágio... ainda que entre aspas...
Agora, vou pôr mãos à roupa e limpar e arrumar o que houver para limpar e arrumar. Nesta tarefa ingrata, dá-me apenas alento a esperança cada vez mais ténue de descobrir alguns cêntimos, que alguém tenha esquecido num dos bolsos...
...aqui, deste lado da montanha.
A horta não é minha. Sim, aqui em casa, há coisas que são minhas e há coisas que não são minhas: a horta não é minha. Mas o dono da horta anda ocupado demais com funções e derivadas, e eu achei que também era minha função não deixar as pobres três raízes de alface, que teimavam em resistir, passarem a derivadas de um qualquer domínio seco e ressequido da função que têm na terra. Assim, na semana passada, plantei alfaces, salsa, courgettes, alho francês e tomateiros.
Agora, tenho ido lá espreitar todos os dias, mas isto não são catos... nunca mais crescem !!
...aqui, deste lado da montanha.
Com as últimas obras, o homem da casa decidiu que queria construir um forno. Análise de custos, esboços do lugar que lhe estava destinado, pedido de opiniões, pesquisa na internet... Fez-se o forno. Eu não queria o forno, mas, como a casa é nossa... fez-se o forno.
Confesso que julguei que iria utilizar o forno, no máximo, três vezes por ano, e, também por isso, não queria o forno. Um dia, acordámos e achámos que tínhamos de rentabilizar o investimento. Cabrito assado e um pãozito, meio pão, meio massa, meio pedra. Mas o cabrito estava um luxo!
As tentativas seguintes, sempre com um assado, foram melhorando: primeiro carvão, depois, insosso, depois, um pouco alentejano, depois, assim-assim...
Hoje foi dia de experiências. Foi o meu amor grande que pôs as mãos na massa e a coisa resultou mesmo. Agora, arruma-se no congelador e está sempre, todos os dias, macio e fofo, como se tivesse acabado de ser feito. O melhor é que, para além de muito mais barato, é MUITO mais saboroso.
Deliciámo-nos a comer pão quente com manteiga. São tentações às quais é impossível fugir. Parece-me que estamos viciados...
...aqui, deste lado da montanha.