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Dizia há pouco o Quintino que um amigo é aquele que nos aponta o que de mau há em nós. É, deve ser, mas é aquele que aponta o que há de mau em nós, sem nós o levarmos a mal, sem que fiquemos a pensar que é inveja, ou crítica, ou ignorância. Tudo tem um outro lado. Um amigo não é só isso.
Um amigo é aquele que passa os bons momentos connosco. Não gosto de frases feitas, já sabem; também não gosto de ideias feitas e quando me dizem que os amigos estão nos momentos maus, eu sei que estão, mas nos momentos maus da minha vida não estão lá só os meus amigos, estão os outros, os abutres da tristeza alheia, os curiosos, os conhecidos.
Agora, nos bons momentos... Ah! aí estão os meus amigos, de certeza. Porque sou o raio de uma antissocial descarada que só convido para estar comigo quem me apetece que esteja comigo.
Se não faço fretes, se não estou com ninguém por favor? Claro que faço. Claro que estou. Pelos outros, pelos que eu amo e isso não me custa nada. Nadinha.
Mas por mim, só estou com quem eu quero... como a música...
...aqui, deste lado da montanha.
Quão estranha pode ser uma vida? O tempo de perceber que uma tarde boa pode ser uma tarde estranha em que apoias um candidato a presidente da câmara que quase não conheces, de uma câmara que quase não conheces, de um partido político que quase não conheces. O tempo de perceber que uma tarde boa pode ser uma tarde estranha em que vais festejar o aniversário de um coreto que quase não conheces, duma aldeia que quase não conheces, e ouves a escola de música e a filarmónica e associação e comes uma bifana e bolos e, se não soubesses, dirias que cresceste por aqui e és da terra.
...aqui, deste lado da montanha.
Gosto de comer. Sou, portanto, aquilo que se chama um bom garfo e, por isso, gosto de tudo. Jaquinzinhos fritos ou camarão grelhado, sarrabulho da Gândara ou xarém do Algarve, migas do Alentejo ou tripas do Porto, gosto de tudo. Só de pensar, já sinto água na boca.
Houve um tempo em que nos deliciámos a conhecer restaurantes, a organizar jantares gourmets, ou meetings temáticos. E esses dias eram bons e felizes. Depois, toda a gente resolveu fazer dieta e a crise ditou que fôssemos menos a restaurantes, e os dias passaram a ser um bocadinho menos bons e nós um bocadinho menos felizes...
Ontem uma amiga minha, que nunca vem ver o meu blog, convidou-me para jantar... num restaurante que não conhecíamos. Restaurante buffet, com música ao vivo, comer o que quisesse, beber o que quisesse, as vezes que quisesse. Ah! Foi tal e qual um casamento, mas sem a parte má dos casamentos, sem esperas, e sem prenda aos noivos. O restaurante é este. E é para voltar!! Adorei. Obrigada, amiga que nunca vem ver o meu blog!
Ah!Quanto às dietas, hoje é o pior dia, e amanhã, e depois, e depois... Quem me dera que o meu único peso fosse o da consciência!!!
Estou triste. Não exclusivamente por mim, mas por uma amiga. Não tenho jeito para as palavras, elas atropelam-se e dizem sempre outra coisa do que quero dizer. Escrever é mais fácil. E não, não me enganei no título. Não quero falar de amizades, nem tristezas, mas, outra vez, desta descoberta constante de ser mãe.
Há o amor desmedido, incomensurável, sempre, inquestionável, inabalável. E, depois, há o outro lado de ser mãe: a culpa.
Ser mãe é ser incapaz de viver para lá dessa sensação de talvez, de dúvida, de incerteza, de culpa. Esta coisa que nos assalta, assombra, a propósito de tudo, desde sempre.
Se o meu filho é agitado, bebi café demais durante a gravidez;se tem cólicas, comi laranjas durante a amamentação; se é pequenino, dou-lhe comida a menos; se é gordinho, dou-lhe comida demais; se está constipado, não lhe pus o casaco; se está constipado, não lhe tirei o casaco; se esteve internado com varicela, não tive cuidado; se o médico o medicou mal, eu levei-o ao médico; se tem alergias, dei-lhe ventilan a mais; se tem falta de ar, não lhe dei ventilan suficiente...
Na verdade, são dois lados de um mesmo amor. Quem ama preocupa-se, questiona-se, culpa-se. Por isso, embora uma mãe julgue sempre que a sua culpa é única, ela é, apenas, a maior. Porque há outras culpas, já que há outros amores...
Na verdade, fizeste o que estava certo, levaste-o ao médico. Na verdade, não há erro. Na verdade, não há culpa, ou então há uma culpa partilhada: minha, dos avós, dos tios, dos amigos. A culpa do outro lado do amor. E isso não se devia aprender só quando se é mãe, o Aviador ensinou ao Principezinho que, quando cativas alguém, sabes que "te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Eu também sou responsável pelo teu filho.
...aqui, deste lado da montanha.
Não acredito em relações à distância. Não acredito em amores à distância, nem namoros à distância, nem casamentos à distância. Perdoem-me os crentes. Também não acredito em amizades à distância. Todos sabem.
Mas acredito em pessoas-catos. Adoro catos. Acho que foi uma outra das heranças da Tia. Os catos são maravilhosos. Não precisam de cuidados diários, aguentam muito tempo sem serem regados, sobrevivem a grandes ausências...
Tenho, pois, alguns amigos-catos. Passamos algum tempo separados, mas, no reencontro, umas gotas de água são suficientes para os alimentar.
Ah! E nunca confiem na morte de um cato. Têm uma capacidade surpreendente de renascer com qualquer gestinho mínimo de amor. Vejam só: como prenda de anos da minha filhota, a minha avó Mimi, (a avó das prendas estranhas e inesquecíveis que tanto podem ser areia do chão de um qualquer sítio onde foi, uma caixa de fósforos ou uns versos nas asas de um anjo) enviou-lhe um chocolate e uma folha de um cato. A folha esteve esquecida num saco de plástico uns quinze dias, depois, mais um mês para eu me lembrar de a enterrar em qualquer lado, só para não ir para o lixo, a ver o que é que dá. Hoje, isto:
(é a do cantinho da esquerda, cheia de flores)
A propósito, sabiam que todos os catos têm flores? A Tia dizia sempre "um dia veio cá a casa o Doutor Qualquer Coisa (que devia ser, pela solenidade que emprestava à voz, um entendido no assunto) e disse-me que todos os catos dão flores, podem levar anos, mas dão". A verdade é que quando resolvi que aqueles catos precisavam de um bocadinho de terra nova, vasos novos, amor novo, um dia cheguei lá a casa e um cato em que eu nunca vira flor, nos muitos anos em que por ali andei, de repente, surgiu-me assim com uma flor tão imensamente bela que julguei que alguém ali tinha posto um flor artificial...
...aqui, deste lado da montanha.
Gosto de descobrir que, nas diferenças, com diferenças, posso passar momentos muito bons com algumas pessoas. Há momentos assim, inexplicáveis, que não sabemos muito bem porquê, às vezes, a maior parte das vezes, uma noite, que até foi ocasional, repleta de sem planos nem previstos, acaba por ser uma noite maravilhosa. E chegas ao fim com um gosto na boca a pedaços de felicidade.
E as palavras, sempre elas, assaltam-me:
"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."
...aqui, deste lado da montanha.
Este post é só para ti. Sei que virás aqui, hoje, ou, o mais tardar, amanhã, e esperas ler "por dentro de mim". Queres que diga-escreva o que sinto, o que significam as minhas ausências, a intensidade dos meus amores.
Hoje, dei por mim a ver pedaços de um programa que se chama Fama Show. As apresentadoras são todas tão magras, tão, tão estreitas... E, quando cabem dentro daqueles vestidos minúsculos, de bonecas, de barbies devem olhar o espelho e sentir-se lindas e maravilhosas. Mas isso é porque não inauguram fornos com cabritos assados e pão acabadinho de fazer, não comem bifanas (ou sandes de courato!) na feira anual, não comem pão do caco com manteiga de alho na casa dos amigos, não dividem uma tarte de chocolate que se derrete na boca em proporções iguais às do amor...
O pior é que com esta minha mania de gostar intensamente do presente, do agora, estes manjares surgem associados a momentos bons de partilha de mágoas ou sorrisos, momentos em que se pensa que se pode ser feliz.
Se continuar a ser assim feliz, temo não conseguir vestir a roupa que escolhi para o reveillon...
...aqui, deste lado da montanha.
Nada é tão efémero como a amizade. Não há amigos para sempre. Há apenas amigos hoje. Podem até ser amigos de ontem e, quem sabe?, de amanhã, mas, mais cedo ou mais tarde, diremos "eu tinha um amigo que..." e já não "eu tenho um amigo que..."d
...aqui, deste lado da montanha.
Ontem saí com uns colegas. Parecendo algo banal, que toda a gente faz, não consigo lembrar-me da última vez que saí com colegas, sozinha, entenda-se! É bom conhecer um pouco mais as pessoas com quem trabalho, para além daquilo que elas são no trabalho. Todos temos mais ou menos uma personalidade de trabalho que não corresponde necessariamente aquilo que se é enquanto pessoa. Como uma farda de trabalho. Sair da escola dá essa possibilidade, porque mesmo nos jantares dentro da escola todos te continuam a tratar por professor, falam de assuntos de professor, mantêm uma postura de professor.
Ontem, embora o tema principal tenha sido professores, e avaliação de professores , foi possível falar de outras coisas, afinar pontos... Uma das pessoas com quem saí está próximo de tornar-se minha amiga; outra reúne muitas condições para se tornar minha amiga; as restantes, pelo que conheço delas, não serão minhas amigas. Mas é essa impossibilidade que aligeira as situações. Não há um esforço de retorno. Numa amizade tens de estar lá, tens de corresponder, tens de alimentar a relação e, às vezes, muito, muito raramente, apetece não estar lá, não dar nada, apenas gozar a caipirinha e a música.
P.S. Também percebi que se me deitar mais tarde do que o costume, mesmo que seja porque me estou a divertir e não a tratar dos filhos, no dia seguinte os relatórios custam a escrever e demoro o dobro, triplo?, do tempo. A força do tempo...
...aqui, deste lado da montanha.
Não tenho saudades de tempos, nem de lugares, nem de coisas que fazia. Mas sinto a falta de pessoas. Sinto muitas saudades de algumas pessoas, das relações que tínhamos, tão inesquecíveis como irrecuperáveis. Sinto saudades de pessoas que partilharam muita solidão comigo, de pessoas que partilharam silêncios, sorrisos, músicas... Sinto saudades de pessoas que, certamente, são já outras.
...aqui, deste lado da montanha.