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toque de entrada

por Ni, em 06.09.13

Aflige-me a escola sem os meus alunos. Aflige-me o silêncio dos passos quase solitários nas escadarias da entrada, aflige-me a ausência dos olhares que se escapam dos grupinhos à porta do bar, aflige-me a falta dos sorrisos que se perdem no vento, afligem-me as paredes despidas de beijos roubados às escondidas, aflige-me a sala deserta, e o quadro vazio, e os corredores mortos.

 

 

E sei que depois do primeiro toque  nada voltará a ser como antes, e que mil vezes, e mais mil, desejarei o instante de silêncio que hoje me aflige. Ainda assim, quero o coração a palpitar e os olhos a brilhar do toque da campainha. Quero o cheiro dos livros novos e o brilho das mochilas ainda sem riscos, ainda sem corações, ainda sem palavras de amor e de desamor. Quero os olhos ávidos de vida dos alunos que hão de ser meus.

 

...aqui, deste lado da montanha.

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Colinhos

por Ni, em 04.04.13

Eu não sou nada destas coisas. Sou exigente demais, bruta demais. Não gosto que eles se agarrem a mim. Reclamo quando se portam mal, quando fazem barulho, quando falam muito.

 

E, depois, há dias assim, com alunos ainda mais assim, que dá vontade de trazer para casa e dar colinho, muito colinho. Raio de vidas!! Raio de miúdos a terem de ser graúdos! Raio de graúdos a agirem como miúdos!

 

 

...aqui, deste lado da montanha.

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Objetivo: futuro

por Ni, em 27.03.13

Fui hoje a uma formação/demonstração da Microsoft, acerca das potencialidades do Windows 8 na educação e, sim, sim, estou a babar-me por aquelas coisas todas: surfaceoffice 365windows 8EDUC8, e quadros interativos, e mesas interativas... um mundo!

Há um milagre qualquer por detrás do avanço tecnológico a que assistimos diariamente, não é novidade, mas quando somos confrontados, cara a cara, com as possibilidades que o futuro nos oferece é FASCINANTE!Por momentos, julguei estar a viver numa outra dimensão.

E estive. Infelizmente as possibilidades que se nos oferecem são tão virtuais! Não temos escolas, nem alunos para que tudo possa isto possa vir a fazer parte da realidade. Os quadros são poucos, a maior parte das vezes estão avariados, ou as canetas, e os computadores são poucos e antigos; os alunos, bem, os alunos são uma ilusão. Todos acham que sabem tudo sobre internet, sobre computadores, mas o conhecimento que têm é como andar de bicicleta. Aprenderam a andar e pronto, fica por aí. Não sabem remendar um furo, não sabem como funcionam as mudanças, não sabem colocar a corrente no sítio... e muitos, quase todos, sabem tudo sobre facebook, não sabem nada sobre enviar uma fotografia num ficheiro; e muitos, quase todos, sabem tudo sobre escrever mensagens rápidas, não sabem nada sobre formatação de texto... Se precisam de o saber, não sei; mas que há um abismo entre os alunos que temos e os que imaginamos que temos, ainda que falemos de computadores, há!!

 

...aqui, deste lado da montanha.

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Filhos de um deus Ritalina

por Ni, em 22.06.12

Escandalizo-me. Assustam-me de morte as violências contra crianças e adolescentes, violências físicas, morais, intelectuais, mas, acima de tudo, a violência social que todos, mais ou menos diretamente, acabamos por cometer. A cada dia que passa, descubro uma nova criança, ou um adolescente, completamente dopado, drogado, aniquilado no fazer, no pensar, porque todos, mais ou menos diretamente, consideramos ser mais fácil esconder os problemas dentro de um comprimido.

 

Nas nossas escolas há dezenas de miúdos ritalinados, porque é mais fácil para toda a gente... é mais fácil para os pais, porque ninguém os preparou para ser pais de meninos que não conseguem educar, para os médicos que são médicos, e isso lhes basta, para os  professores que ainda pensam que ser professor é  dar aulas, para os funcionários que estão fartos de meninos mal-comportados, para os estranhos que passam na rua e não se querem sentir obrigados a reparar em meninos mal-educados que lhes acinzentam as vidinhas...

 

Escandalizo-me porque antecipo os dias em que, terminada a escolaridade obrigatória, estes meninos passarão de doentes a toxicodependentes, não sabendo viver limitados por regras, mas apenas por pílulas milagrosas de bom comportamento. E, assim, a vida vai-lhes acontecendo, tristemente.

 

...aqui, deste lado da montanha.

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Profissão: professor

por Ni, em 17.04.12

Durante muito tempo, fui feliz a dar aulas de Literatura. Houve momentos em que, a discutir ideias com os meus alunos, a ensinar a gostar de ler, a fazê-los pensar, a aprender, julguei que não poderia nunca mais sentir-me realizada daquela forma.

Quando temos a capacidade de sairmos de nós e nos observarmos como espetadores de uma qualquer cena de um filme e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 50 pessoas mais velhas, mais experientes, mais sábias, mais cheias de saber, e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 50 pessoas que a ouvem e num momento qualquer, um fragmento de um instante apenas, pensam que aquela miúda lhes está a ensinar alguma coisa, é aí que vês que aquela personagem, que és tu, está tão feliz, tão realizada profissionalmente, que sentes uma onda de orgulho imodesto que procuras esconder apressadamente, mas tens a certeza que não voltarás a atingir um patamar tão elevado nesta coisa de ensinar.

Depois, há um dia em que recuperamos aquela capacidade de sairmos de nós que julgávamos já impossível e observamo-nos, ainda, como espetadores e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 4 pessoas, pequeninas, com tantas experiências de vida, mais pobres de saber viver, mais carentes de amor, e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 4 pessoas tão diferentes, tão especiais, que num qualquer instante, das suas vidas atribuladas de histórias mais ou menos estranhas, a ouvem e lhes sai da boca " professora, tu ensinas-me coisas tão giras. és tão linda!". E é aí que vês que aquele aquela personagem, que és tu, está tão feliz, tão realizada profissionalmente, que sentes uma onda de orgulho imodesto que te assalta, e tens a certeza que esta coisa de ensinar também é esta redescoberta diária de aprender a ensinar.

 

Assim, contra os mais céticos, realmente eu gosto de ser professora de Educação Especial.

 

...aqui, deste lado da montanha.

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Sombras

por Ni, em 05.05.11

Imaginem um miúdo de 5º ano, extremamente magro, magro demais, com a cara marcada, as costas marcadas, sem conseguir mexer um braço. Imaginem que o aluno chora convulsivamente e treme de forma incontrolável, porque lhe tinham dado socos, lhe tinham batido com um chinelo e lhe tinham torcido o braço atrás das costas, ameaçando apenas parar quando ele tivesse o braço partido. Imaginem que o aluno chora desesperadamente enquanto responde, entre soluços nos lábios e terror nos olhos: "foi o meu pai".

 

E desde então uma sombra enche-me o peito e teima em não sair e eu sinto-me inútil, incapaz, culpada. Não somos todos culpados?

 

...aqui, deste lado da montanha. 

 

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Profissão: professor

por Ni, em 17.09.10

De repente, em vez de falar de literatura ou de explicar orações, ou, simplesmente, ensinar a ler, dou por mim a tentar saber se aqueles miúdos têm uma refeição que se possa chamar refeição, se um comerá demais, se o outro comerá de menos, se têm champô, um gel duche ou sabonete, se tomam banho, se têm casa de banho.

De repente, em vez de falar de literatura ou de explicar orações, ou, simplesmente, ensinar a ler, dou por mim a experimentar batas usadas em miúdos felizes por usarem batas usadas, em miúdos felizes por se sentirem gente como a gente.

 

De repente, dou por mim a, ainda, gostar de fazer o que faço.

 

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Prazeres

por Ni, em 14.09.10

Por falar de escola...

 

Sabe tão bem bisbilhotar o perfil de um ex-aluno que não se vê há algum tempo e, de repente, ver ali o nosso nome escrito, com um obrigado assim tão público.

 

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A primeira vez

por Ni, em 14.09.10

Finalmente o que verdadeiramente me interessa: os alunos!

 

Hoje foi o primeiro dia de aulas deste ano lectivo que se prevê cheio de mudanças e sobressaltos: meia escola em obras, duas escolas que passam a uma só, colegas que insistem em dizer, e mostrar, que são da outra escola, alunos que ninguém conhece muito bem, alunos que tentam mudar o ambiente "desta" escola, alunos que têm medo de começar a ir à "outra" escola e muita viagem entre escolas.

 

Eu, como sempre, comecei o ano de coração aberto, feliz por rever os meus alunos, feliz por pensar como mudámos em tão pouco tempo, ansiosa por conhecer os novos alunos, cheia de projetos, cheia de ideias. Num contexto de confusão, agitação e um certo mau-estar encoberto, as primeiras horas com os meus alunos deram-me um ânimo fantástico, porque entre reuniões, colegas, edifícios, livros, funcionários, horários, encarregados de educação, a única coisa que vale sempre muito a pena são os meus meninos!

 

...aqui, deste lado da montanha!

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