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Parece-me mesmo a propósito a recomendação da agenda do lar para o dia de hoje. Com este sol todo já dá vontade de arrumar de vez as roupas de inverno que já estiveram mesmo, mesmo, dobradinhas e embaladas, mas que, devido à interrupção brusca, lá tiveram de voltar aos armários. Agora, deve ser definitivo. Por isso aqui fica, do tempo das avós:
"Como combater as traças
Antes de arrecadar os seus vestidos e casacos de inverno limpe-os de nódoas e liberte-os de pó, porque a menor mancha ou menor traço de poeira é um chamariz de traças.
Costuras, bainhas, interior dos bolsos, tudo deve ser bem escovado e limpo.
Depois disto, embrulham-se os abafos, as peles, e tudo, enfim, que se limpou e não servirá senão no inverno, em papel de jornal humedecido com terebintina, pois a tinta de impressão, referçada com a terebintina tem um forte poder inseticida. Para maior intervenção pode-se meter a roupa assim embrulhada em sacos de papel não cosidos mas colados, para ser menos provável a entrada do insecto. No exterior de cada saco descreve-se o conteúdo."
Devo lembrar que mantenho a linguagem exata do que está escrito na agenda de 1964, com alterações de ortografia e, eventualmente, pontuação. De resto, é mesmo plágio... ainda que entre aspas...
Agora, vou pôr mãos à roupa e limpar e arrumar o que houver para limpar e arrumar. Nesta tarefa ingrata, dá-me apenas alento a esperança cada vez mais ténue de descobrir alguns cêntimos, que alguém tenha esquecido num dos bolsos...
...aqui, deste lado da montanha.
Ando bastante desconfiada da autoria desta minha herança. Há uma não sei o quê neste texto que remete para a eterna discussão dos amantes da literatura acerca da escrita feminina e da escrita masculina, sendo que os indícios de homem-macho eram bem mais evidendes em 1964, não vos parece?
PARA CONSERVAR A FELICIDADE CONJUGAL
"Eis algumas regras sobre a felicidade conjugal. É, pelo menos, o que se apurou num referendo [referendo??] muito sério [ah!! amostra exclusivamente masculina]:
- Não deves vestir-te pior depois da cerimónia do casamento que antes. Não esqueças nunca que a caça ao amor está encerrada mas que é preciso conservar prisioneira a tua ave rara [o marido?? toda a gente sabe que... os maridos das outras são aves raras...].
- Não descures a saúde do teu marido. Para o fazer, pequenos (hum... talvez não fosse má ideia considerar a hipótese de uma ligeira alteração ao texto)pratos cozinhados com cuidado não são de afastar.
- Rejubila se o teu companheiro dispõe de alguns dias de repouso. Mas não aproveites estas horas de descanso para o reter no lar, fazê-lo pregar uma tábua, pintar de novo a cozinha [coitadinho!]. Propõe-lhe ir à pesca, à caça. Ele voltará mais amável contigo.
- Evite [ai agora já e evite? até aqui era deves para cá, não aproveites para lá, mas agora que é para falar do senhor marido já tem de ser evite. Pois, certo.] fazer-lhe observações irónicas sobre as suas manias, defeitos, diante de parentes, amigos. Frisa, sem cessar, mas com gentileza, o que és a seus olhos."
Risinhos entre parêntesis retos à parte, não há dúvidas de que estas regras são um bom ponto de partida para qualquer pessoa.
Vista-se bem. Importantíssimo para que a auto-estima esteja em grande. Se te sentes bem contigo, sentes-te bem com todos, logo, também com o teu marido.
Não descure a saúde. Corpo são em mente sã... meio caminho percorrido.
Saia para ir à caça. Tem de haver um eu e um outro, para que uma relação resulte. Tem de haver espaço para a singularidade de cada um, tem de haver respetio pela pessoa, quer goste de ir à caça ou de ler...
Por fim, mostre amor. Intimidade, cumplicidade, amizade implicam isso mesmo.
Nada de novo, portanto...
...aqui, deste lado da montanha.