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Não, não vejo os óscares. Admiro que tem tempo, paixão?, para ver os óscares e ser o primeirinho a saber tudo sobre o melhor da incrível arte do cinema. Eu não vejo os óscares. Mas revejo os óscares. Pelas palavras dos outros.
Adoro andar a saltitar de blog em blog à procura das opiniões que se dividem, se cruzam, se repetem. Os mais bem vestidos, os mais merecidos, os melhores discursos, os piores, as gafes... Adoro!
...aqui, deste lado da montanha.
Já não vou ao cinema. Adoro cinema e, por isso, já não vou ao cinema. Nenhum filme visto em casa, sujeito a todo o tipo de interrupções, a todo o tipo de ausência de estar sozinha se pode alguma vez comparar ao cinema. Já não vou ao cinema, porque é caro e porque não tenho com quem deixar os meus filhos. Obviamente, há todo uma questão de prioridades que me fazem faltar o tempo e o dinheiro para ir ao cinema, mas, ainda assim, acredito que a minha lista de prioridades está bem organizada, quando digo já não vou ao cinema.
Leio. E os meus óscares da leitura vão para...
Melhor Personagem Masculina Principal
antónio jorge da silva
porque esta personagem tão lúcida e crua de oitenta e quatro anos me conquistou e me levou a ver um mundo que nunca aparece nos livros, o dos velhos.
"(...) mas eu não queria passar o tempo, queria mais é que ele não passasse, que importa a um homem de cem anos que o tempo passe. a mim importa-me é que não teime passar, que fique quieto, o estupor do tempo. e que me deixe ir dar as minhas voltas e ver as coisas ainda comprometidas com a vida, que aqui já só se vê aquilo que tem compromisso com a morte."
a máquina de fazer espanhóis, Valter Hugo Mãe
Melhor Personagem Feminina Principal
Adelaide.
"O livro estava mexido. Alguém o tinha aberto numa página, número 224, e feito pequenos círculos a lápis, à volta das seguintes palavras: gosto, de, ti. Três palavras distribuídas pela página com círculos à volta. Olhou em redor e, ao longe, entre pessoas distraídas, viu o leitor de livros da biblioteca a fixá-la. Desviou o olhar, guardou o livro na mala saiu. De repente, estava na rua. levava pensamentos a ganharem volume, como nuvens."
Livro, José Luís Peixoto.
Melhor Argumento Original
Os homens que odeiam as mulheres, Stieg Larsson
É um daqueles livros de verão, de praia, mesmo, para ler, ler, ler sem pensar muito, com muita, muita história a acontecer.
"Vinte anos, pensou. Era o tempo que aquilo já durava. E, no que lhe dizia respeito, podiam continuar a dormir juntos por mais duas décadas, pelo menos. Nunca tinham verdadeiramente tentado esconder a relação entre os dois, memsmo quando isso levava a situações embaraçosas no contacto com terceiros.
Mikael tivera, desde o início, a certeza de que aquele não era o tipo de amor antiquado que leva a uma casa partilhada, uma hipoteca partilhada, árvores de Natal e filhos. Durante os anos oitenta, quando nenhum dos dois estava ligado a outros compromissos costumavam falar de alugar um apartamento. Ele teria gostado, mas Erika recusava sempre no último instante. Não ioa resultar, dizia, arriscavam-se a perder tudo o que tinham se se apaixonassem. Mikael perguntava muitas vezes a si mesmo se seria possível sentir-se mais sexualmente atraído por qualquer outra mulher. O facto era que funcionavam muito bem juntos, e tinham uma relação tão viciante como a heroína.
Por vezes estavam tanto tempo um com o outro que era quase como se fossem um verdadeiro casal; outras, chegavam a passar semanas, ou meses, sem se verem. Mas, tal como os alcoólicos são atraídos para o balcão do bar depois de um período de abstinência, acabavam sempre por voltar.
(...) Mikael não tinha grande opinião a respeito de Greger, e nunca compreendera o amor de Erika por aquele marido complacente. Mas sentia-se feliz por ele admitir que ela podia amar dois homens ao mesmo tempo."
Melhor Livro de Animação (leia-se Infantil)
A minha mãe é a melhor do mundo, Maria João Lopo de Carvalho
( sou muito crítica em ralação aos livros infantis. Todas as noites leio uma história aos meus filhos, e tenho um trabalho árduo para escolher bons livros (ou são imbecis, ou sem sentido, ou difíceis, ou, pior de tudo, têm erros ). Agora que a filhota começou a aprender a ler, tenho de ter um cuidado redobrado, porque ela já vai espreitando, lendo e fazendo perguntas, já não dá para inventar palavras, sem correr o risco de ela perguntar onde é que eu estou a ler...)
Melhor Documentário
Agora, uma história de amores próprios, Pedro Boucherie Mendes
Embora o livro apareça classisficado como romance, as personagens são tão verosímeis ( tenho a impressão que me cruzei com o Vasco no fim-de-semana) que me apetece que seja um documentário.
"Porque é disto que se trata, de cultivar uma certa bipolaridade engenhosa, uma imprevisibilidade enervante, um retrato tão desfocado quanto possível. A ambiguidade na comunicação é de uma utilidade que nem se imagina e tem a vantagem de não precisarmos de fazer rigorosamente nada, a não ser deixá-la escorrer para que inunde tudo à sua volta."
Melhor Livro
A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe
porque sim, já se adivinhava, todas as apostas iam, aliás, neste sentido ou não fosse este livro o sustento diante do sol.
Melhor Escritor
Valter Hugo Mãe
Pressinto, triste, que não vai ser para a vida toda, esta minha recente paixão, mas enquanto houver a chama da novidade, deixemos o fogo arder. Gosto da sua escrita, gosto das suas personagens, gosto das suas "histórias" e, principalmente, gosto da mistura que cria com as palavras. Pode ser que, no fim, sobre o amor.