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"Quando acordou não abriu os olhos. Deixou-se ficar, imóvel, sentindo a sua própria respiração, buscando-se no seu interior. Percebera que os demónios que se alojam no coração, mesmo enterrados sob a distância e o tempo, não morrem, antes se apropriam da alma dos que julgam tê-los expulsado.
Tateou, de olhos fechados, a mesinha de cabeceira, à procura dos óculos. Não lhe apetecia ver, queria continuar no seu silêncio íntimo, queria esquecer. Sabia que tinha sido um breve olhar, fugaz, ensaiado há mil anos, que desenterrara o seu demónio.
Colocou os óculos e, quando finalmente abriu os olhos viu a sua figura refletida no espelho. Os cabelos louros e esguios que se torciam junto ao pescoço, os olhos e os lábios inchados pelas horas de insónia, nada daquilo era já ela (...)"
Disse Saramago numa entrevista à Playboy
"Parece haver uma predestinação em tudo aquilo que faço. Há coisas que acontecem e que suscitam outras ideias, portanto é tudo uma questão de estar com atenção ao modo como essas ideias se desenvolvem. Algumas delas não têm saída, mas há outras que encontram seu próprio caminho. Não escrevo livros para contar histórias, só."