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Doce J,
Já há alguns dias que venho até aqui para te escrever algumas palavras, mas as palavras são tão pequenas, tão insignificantes e eu, hesito, apago o que escrevi, não encontro sentido nas frases que aqui vou deixando, tão pequenas... Por isso, doce J, desculpa-me. Desculpa não ter ainda encontrado palavras para ti.
Queria palavras que falassem de amor, mas já as usei; queria palavras que falassem de felicidade, mas elas gastam-se nos meus dias; queria palavras que falassem de esperança, mas a esperança é já toda feita de espera; queria palavras que falassem de carinho e ternura e doçura, mas elas vão preenchendo o teu nome.
Vens e trazes a insuficiência das palavras, trazes novos laços que se enredam em torno de mim, trazes amor.
Não encontro as tuas palavras, porque não há palavras para falar de um raio de sol que nos aquece a alma.
...aqui, deste lado da montanha.
O meu menino anda adoentado. Nada de especial: tosses, espirros, expetoração, nariz entupido, mas, na verdade, uma nada de especial que consegue deixar-me desorientada.
Levanto-me de hora a hora porque ele não consegue respirar muito bem e chora. Às vezes, limpo-lhe o nariz com soro, e ele detesta e chora, outras vezes, limito-me a mudá-lo de posição. Um nada de especial que me interrompe constantemente o sono e me faz acordar rabugenta (mais ainda do que o normal), com pouca vontade de trabalhar e, à noite, quando, finalmente!, os despacho - banho, jantar, pijamas, história - já só tenho ânimo para me atirar para cima do sofá e deixar-me adormecer.
A roupa parece invadir todos os cantos da casa e amontoa-se no estendal, nos cestos, na tábua de passar. Os objectos parecem ganhar vida própria e colocam-se na minha passagem, desleixados, atirados. Enfim, vamos sobrevivendo graças à solidariedade do papá que dorme um bocadinho melhor e nos faz o jantar.
Agora, vou ali atirar-me ao sofá e rezar para dormir mais do que uma hora seguida.
...aqui, deste lado da montanha.
Amei-te antes de existires, amei-te antes de te ver e, no momento em que senti o bater do teu coração junto ao meu peito, esse amor começou a aumentar e, hoje, é um amor sem conta nem medida.
Vêm-me à cabeça pedaços de versos que transformo para serem teus:
Amo-te, assim, perdidamente ...
És alma, e sangue, e vida em mim
E digo-o cantando a toda a gente!
E o mais espantoso é que se, hoje, escrevo para ti, porque te celebro, estas palavras não são isentas de um outro tu.
...aqui, deste lado da montanha.
Sinto um nó na garganta, uma comoção que parece crescer à medida que o dia passa. Estou, parece-me, enamorada.
Tenho dias assim, felizes, apaixonados, em que sinto o sangue aquecer-me as faces, o coração a bater mais depressa, e uma vontade de dizer a todos que és o meu amor.
De repente, volto a ter 18 anos, volto a ver-te passar por mim, volto a achar-te giro, volto a correr atrás de ti, para, depois, não te ligar, fingir-me desinteressada para que procures por mim. Sou, de novo, uma menina a querer aprender a ser mulher contigo. E tu és o rapazito a aprender a ser homem comigo.
Gosto de ti, sabes? De vez em quando, apaixono-me por ti desta maneira inexplicável. Gosto desta relação de amigos-cúmplices-amantes. Gosto desta relação em que todos os dias aprendemos a ser uma família. Gosto de te ter ao meu lado, gosto de estar ao teu lado, gosto de ti e gosto da pessoa que sou por gostar de ti.
Às vezes pergunto-me se as coisas mudarão e acho que sim, e sei que sim. Não serei a mesma e tu não serás o mesmo, tal como não somos, hoje, os mesmos de há 18 anos atrás, mas, no fim de contas, tenho a secreta certeza que tudo farei para, de vez em quando, acender esta paixão, já que este amor não se extingue.
...aqui, deste lado da montanha.
É tempo de partir, de fazer as malas e partir, de me ausentar de ti, de me ausentar de vós, de deixar para trás os meus amores. É tempo de acompanhar um outro amor, diferente, mas amor. É tempo de procurar um pouco de mim, perdido, será perdido?, corrijo, escondido, nos laços que me prendem a vós. Vou à procura desse pedaço de mim, já outro agora, decerto, porque nunca, nunca, nunca sem vós.
Fora isso, IUPPIIII!!!! Vou para a desbunda!!! Não me agarrem que eu não quero....
... aqui, deste lado da montanha!
Eu pareço, sei que pareço, uma miúda actualizada nestas coisas da internet e dos blogs, mas, admito perante o meus dois, vá lá três, leitores, não entendo certas coisas, não sei fazer...
Isto porque a minha amiga Sílvia disse, num comentário, que tinha no homelandstories um selo para mim. Ora, eu confesso que não faço a menor ideia de como se vai buscar o selo, se vem pelos correios ou se, ao falar dele, quase por artes mágicas ele aparecerá aqui.
Mas o selo é sobre ser mãe, é para falar disso e de porque é que gosto de ser mãe e eu pensei para comigo "bem, isso é o que eu faço quase sempre neste blog" e, assim sendo, cá vai:
Eu não gosto sempre de ser mãe. Eu gosto mesmo muito, muito, muito é dos meus filhos. Não gosto de ser mãe quando eles adoecem, quando não consigo dormir, quando não consigo ter uma refeição em paz, quando não consigo sair com o meu marido, quando tenho de os repreender...
Amo os meus filhos nas suas palavras e balbúcios, nos seus olhares, nos seus gestos, nos seus corpos, nas suas maneiras de ser... Amo os meus filhos, com um amor incomensurável que ultrapassa as doenças, as noites sem dormir, as refeições mal tomadas, as saídas não realizadas, as repreensões... Amo os meus filhos assim com um amor em todos os minutos, que está sempre em mim, vivo, como uma ferida aberta, uma ferida que não dói mas que lembra, que existe, que faz parte de mim.
Este sentimento faz parte de mim, enche-me a alma e, só por isso, eu amo ser mãe!
Agora eu tinha de passar este selo (aqui imaginário) a alguém, mas, acreditem, eu só tenho dois, vá lá três, leitores, e, para além da Sílvia, que me "deu" o selo só o poderei passar à Avessa e à Travessa que não conheço, mas que são mães e eu gosto de lê-las...
...aqui, deste lado da montanha.
Por vezes, a luta entre a mulher e a mãe é tão grande que por entre unhadas e puxões de cabelos, mordidelas e pontapés, fica um sentimento no peito, uma sensação de incerteza, que, de repente, parece governar toda a minha vida. Entre o certo e o errado, o coração e a razão, quem me poderá valer? Sei que sim, mas a vontade teima em chegar. Sei que é certo, mas hesito. Devo celebrar, mas a tristeza insiste em ficar. A culpa, a culpa... a culpa pelo que fiz, a culpa pelo que não fiz, a culpa pelo que ficou meio feito...
Resta-me apenas a certeza de que da luta, da dúvida, da ansiedade ou da tristeza acabará por sobressair toda a minha humanidade.
...aqui, deste lado da montanha.
O outro lado de Maternal mente:
Olho para os meus filhos e vejo-os como fruto deste amor entre mim e o meu marido. São uma passagem, de um eu mais um tu, a um nós. Aquilo que sinto por eles é imensurável e, desculpem-me aqueles que não são pais, é preciso viver-se este amor para saber do que estou a falar.
É verdade que, quase diariamente, há uma luta entre a mãe e a mulher que existem em mim, por vezes, ganha a mãe, outras, ganha a mulher, e, nos melhores dias, as duas co-habitam em simpática harmonia. Com os meus filhos perdi muita coisa, adiei outras, mas ganhei muitas, muitas outras que nem sabia que existiam.
Se eu acho fácil ser mãe? Não! Se, por um breve nano-segundo, estou arrependida de ter filhos? Não! Nunca, nunca, NUNCA! Amo ter filhos. Adoro viver este amor a quatro. Adoro a minha filha a cantar (gritar) canções inventadas, durante as nossas viagens infindáveis, adoro o meu marido a ameaçar parar o carro para pôr a malta na linha, adoro o meu bébucho a resmungar porque precisa de mudar a fralda, adoro a minha cabeça prestes a estoirar com tanta confusão.
E, se adoro isto, imaginem o que sinto quando a minha filha me diz "és a mamã mais linda do mundo", quando ela me diz "mamã, despacha-te, que eu tenho de ir ajudar o papá a apanhar as pedras do jardim e lavar a minha bicicleta" ou quando o meu marido decide praticar "parkour" e ela vem fazer queixinhas e mostrar como ele fez, ou quando o meu bébucho abre aquela boca linda num sorriso com gargalhadas... Imaginem...
...aqui, deste lado da montanha.
Aos meus amores:
Acordo com as lágrimas nos olhos. Um mau dia. Um dia negro.Não encontro as razões, mas ocorrem-me ideias sombrias que me trazem ainda mais lágrimas: o sono acumulado, por uma noite em que o bebucho quis mais leitinho do que o normal; os dias rotineiros fechada em casa; este maldito tempo que não melhora (eu quero mesmo muito viver num país tropical em que o sol brilhe todo o ano); o meu amor que sai para uma exposição (e eu, racional, sei que não o posso acompanhar e, mais racional ainda, sei que ele tem de ir); os dois pirralhos, com quem tenho de ficar, novamente, sozinha; um ombro amigo a quilómetros de distância; ou, apenas, o desconforto hormonal de um pós-parto... e nem um motivo para sorrir. Não me apetece tirar o pijama. Apetece-me ficar na cama. Chorar.
A miúda reclama por mim. Tenho de ir às compras, para o almoço... com os dois... Então, visto-me e saio. Decido tomar um café e comprar um pastel de nata para a princesa. Quando está quase a terminar, ela levanta-se e eu, zangada, pergunto-lhe onde é que ela vai. Ela não me responde (e eu preparo-me para lhe dar um sermão sobre a licença para sair da mesa), contorna a mesa e, inesperada e carinhosamente, dá-me um beijo e começa a salvar o meu dia .O preto talvez não seja assim tão preto, há ali um cinzento a espreitar . De repente, talvez possamos ir passear, nós os três, acho que está a começar o festival do chocolate, ou vamos, sei lá, a qualquer lado. Sim, claro, vamos almoçar e sair de casa.
Almoçámos e, sem festival do chocolate, começava, novamente, a achar que talvez o melhor fosse ficar a curtir as mágoas. Toca o telefone e era o meu amor a dizer que estava mesmo a chegar (JÁ???). Saímos para qualquer lado e, de repente, ir ao centro comercial num domingo à tarde parece-me o programa mais apetecível do mundo e eu entro no carro como se o nosso destino fosse uma praia paradisíaca... O homem da minha vida, também, tinha salvo o meu dia. Vejo tudo claro e sorrio, apaixonada .
Depois, bem, depois, o dia ficou brilhante e solarengo. O meu homem lindo viu-me com uns sapatos nos pés, que eu experimentei só para ver como ficavam e, enquanto eu desapareci uns minutos para amamentar o bebucho (que se portou lindamente) ele decidiu comprar-mos e oferecer-mos. E eu fiquei linda e maravilhosa com eles. E senti-me num dia bom. E adorei a minha vida.
...aqui, deste lado da montanha.
Uma das coisas que mais me surpreendeu, quando tive a minha princesa, foi o facto da amamentação não ser o processo natural e instintivo que eu sempre imaginara. Afinal, amamentar não era aquele acto simples e fácil que eu sempre vira nos animais lá em casa. É claro que, na altura, havia a desculpa da Pompinhas ter nascido antes do tempo e, por isso, não saber mamar. Todas as vezes eram uma primeira vez, uma aprendizagem, para ela... e para mim.
Se nessa primeira experiência de maternidade, e amamentação, passei por tudo aquilo que é doloroso (mamilos doridos, gretados, peitos ingurgitados, até chegar à mastite), desta vez achei que a experiência me haveria de valer.
E tem valido.
Mas, na realidade, a amamentação não é isenta de dor. Por mais esforços que façamos, acabamos sempre por, num dia ou outro, termos o peito dorido, os mamilos gretados, o peito cheio.
E a primeira semana de amamentação é dor e sofrimento. Quem quiser vencer as dores destas primeiras mamadas tem de imaginar o que será levantar-se todas as noites para preparar os biberões, lavar e desinfectá-los, os custos monetários,... enfim, pensar em tudo o que é negativo na amamentação artificial.
E, principalmente, tem que se imaginar aquele sorriso mágico que, por volta dos dois meses, o nosso bebé nos dá, enquanto estamos a amamentar e que nos deixa com o peito cheio... de uma alegria indescritível.
É como se fôssemos explodir. Meu Deus, o que é isto? É só a serotonina a fazer efeito? Ou será amor, amor, amor?
PS: Embora considere a amamentação algo muito, muito positivo, deixo aqui as palavras de uma enfermeira da maternidade que muito me ajudaram, quando estava mais desesperada:
"Tive três filhos e não amamentei nenhum. Ai de quem se atreva a dizer que amo menos os meus filhos por isso!!"
A amamentação não traz o amor. O amor é que pode trazer a amamentação...
...aqui, deste lado da montanha.