Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Durante muito tempo, fui feliz a dar aulas de Literatura. Houve momentos em que, a discutir ideias com os meus alunos, a ensinar a gostar de ler, a fazê-los pensar, a aprender, julguei que não poderia nunca mais sentir-me realizada daquela forma.
Quando temos a capacidade de sairmos de nós e nos observarmos como espetadores de uma qualquer cena de um filme e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 50 pessoas mais velhas, mais experientes, mais sábias, mais cheias de saber, e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 50 pessoas que a ouvem e num momento qualquer, um fragmento de um instante apenas, pensam que aquela miúda lhes está a ensinar alguma coisa, é aí que vês que aquela personagem, que és tu, está tão feliz, tão realizada profissionalmente, que sentes uma onda de orgulho imodesto que procuras esconder apressadamente, mas tens a certeza que não voltarás a atingir um patamar tão elevado nesta coisa de ensinar.
Depois, há um dia em que recuperamos aquela capacidade de sairmos de nós que julgávamos já impossível e observamo-nos, ainda, como espetadores e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 4 pessoas, pequeninas, com tantas experiências de vida, mais pobres de saber viver, mais carentes de amor, e vês que aquela personagem, que és tu, tem à sua frente 4 pessoas tão diferentes, tão especiais, que num qualquer instante, das suas vidas atribuladas de histórias mais ou menos estranhas, a ouvem e lhes sai da boca " professora, tu ensinas-me coisas tão giras. és tão linda!". E é aí que vês que aquele aquela personagem, que és tu, está tão feliz, tão realizada profissionalmente, que sentes uma onda de orgulho imodesto que te assalta, e tens a certeza que esta coisa de ensinar também é esta redescoberta diária de aprender a ensinar.
Assim, contra os mais céticos, realmente eu gosto de ser professora de Educação Especial.
...aqui, deste lado da montanha.