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Não, não me sinto aqui exposta. Quem se expõe neste blog é aquela menina que está na imagem ali ao lado, a Dora Ni. Os desabafos, os lamentos, os elogios, as palavras, são dela. O outro lado da montanha é meu, mas é, principalmente, dela, e só quem me conhece verdadeiramente sabe que percentagem ela é de mim.
Não, não temo que espreites o outro lado da montanha, não temo que os meus amigos espreitem o outro lado da montanha. Aqui não escrevo nada que não lhes dissesse se, por acaso, fosse mais de dizer do que de escrever. Aqui estão partes de mim que só os meus amigos verão como partes de mim. A temer algum leitor, seria, talvez, um inimigo, mas mesmo esse ficaria sempre hesitante entre mim e a outra de mim. Em qual acreditar? Qual delas a verdadeira? Qual delas a personagem? Quanto duma é sincero? Quanto da outra é máscara?
Não, não me sinto exposta, porque um texto é, sempre, até num post - ou principalmente num post-, a realidade inventada por quem a escreve, para, depois, ser re-inventada por quem a lê e, no fim, aquilo que se lê não é já a realidade de quem escreve, mas a realidade de quem lê. No fim de contas, a realidade da Dora Ni não é muito diferente da realidade de muitas mulheres que conheço, e que admiro, que travam, todos os dias, lutas para chegar ao outro lado da montanha, sabendo que do outro lado a aguardam um emprego, os amigos, os filhos, umas férias, a casa, um amor...
...aqui, deste lado da montanha.