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Aflige-me a escola sem os meus alunos. Aflige-me o silêncio dos passos quase solitários nas escadarias da entrada, aflige-me a ausência dos olhares que se escapam dos grupinhos à porta do bar, aflige-me a falta dos sorrisos que se perdem no vento, afligem-me as paredes despidas de beijos roubados às escondidas, aflige-me a sala deserta, e o quadro vazio, e os corredores mortos.
E sei que depois do primeiro toque nada voltará a ser como antes, e que mil vezes, e mais mil, desejarei o instante de silêncio que hoje me aflige. Ainda assim, quero o coração a palpitar e os olhos a brilhar do toque da campainha. Quero o cheiro dos livros novos e o brilho das mochilas ainda sem riscos, ainda sem corações, ainda sem palavras de amor e de desamor. Quero os olhos ávidos de vida dos alunos que hão de ser meus.
...aqui, deste lado da montanha.
Chegou ao fim o meu ano auto-imposto sem comprar roupa ou sapatos... Ontem atrevi-me a perder-me por entre lojas e montras, provadores e corredores de centros comerciais.
Primeiro, devo dizer que levei as duas horas que me ofereci com a sensação estranhíssima de que me faltava qualquer coisa, do género "ainda vais demorar muito, mãe?", "vais ver a loja toda, mãe?" e, no limite, "quero água", "tenho fome", "quero fazer xixi". Ou seja, não sei o que é entrar numa loja sem que me chamem, me interrompam, me levem a correr pela loja fora à procura deles por entre cabides e camisolas...
Segundo, lembrei-me constantemente duma história que li há poucos dias nas redes sociais. É a conversa entre marido e mulher de casamento de vários anos em que a mulher o acusa de beber todos os dias e de, assim, gastar muito dinheiro ao fim do mês e, consequentemente, ao fim do ano. Tanto dinheiro que, ao fim daqueles anos todos de casamento, daria para comprar um Ferrari. E ele pergunta-lhe: "Tu bebes?" E ela: "Não!" E ele pergunta-lhe: "Então, onde está o teu Ferrari?".
Foi assim que me senti ao fim deste ano... Se levei um ano inteiro sem comprar uma pecinha de roupa, uma t-shirtezinha na feira dos trinta que fosse, ou uns chinelos de praia made in loja do chinês, porque é que não estou rica? Porque é que chego a setembro com os mesmíssimos escassos cêntimos que no ano passado me levaram a tomar esta decisão?
...aqui, deste lado da montanha.