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Eu adoro o Algarve. Ah! e tal que é fatela! e tal! Só gente! E só sol! O mar até chateia! E tal!
Pois!...Eu, eu adoro o Algarve!
Vivi lá dois anos e isso talvez faça toda a diferença. Gosto do sol, gosto da gente, gosto do calor, gosto da água, gosto das noites quentes... Já disse que gosto do calor?? Gosto! Muito.
Gosto de ir de férias para o Algarve. Já gostava quando ia para uma casa alugada. Agora, gosto ainda mais, porque vou para um hotel e posso dedicar-me a ser absolutamente, completamente... dondoca. Já estou naquele ponto em que prefiro uma semana no hotel a um mês numa casa. Rendida ao dondoquismo tacanho, só não consigo trocar os meus livros pelas revistas cor-de-rosa que qualquer dondoca que se preze lê. De resto, haja Algarve! Haja pequenos-almoços buffets, haja piscina, e praia, e passeios, e aquaparques, e saídas à noite, e discotecas ao ar livre, e sunset, e sunset, e sunset...
...aqui, deste lado da montanha.
Todos os meus dois leitores sabem que metade do que eu escrevo é pura imaginação e a outra metade é mentira. Na verdade, quando estou de férias, estou mesmo de férias, não quero saber se vou, se fico, ou se mudo de ideias a meio do caminho.
Há um outro lado neste outro lado das férias longe da praia e longe do mundo. O telemóvel não me faz falta. A televisão já há muito não sei o que é. O café é "o das velhas" (cafeteira ao lume, com borras, que depois se deixam assentar), por isso, tirando o facto do miúdo ainda ser pequeno demais para grandes caminhadas, estamos bem por aqui. No último diaa lá descobrimos as piscinas municipais com água a temperatura para mais de dois minutos e foi vê-los a divertir-se, enquanto eu lia e tirava fotografias.
Depois, ainda há tempo(aqui há sempre muito tempo!) para visitas e mais fotografias...
...aqui, deste lado da montanha.
Imaginem lá porque é que na maioria das fotografias de praias fluviais não há ninguém na água... Já adivinharam? Pois é, meus queridos dois leitores (eu achava que podiam ser três, mas depois dos últimos posts estou certa de que não são mais do que dois), a verdade é que a água do rio não está fria, não está gelada, mas, pelo contrário, quando se coloca a unha do dedo grande do pé no rio, ao de leve, que não somos doidos, ficamos a saber o significado de calorzinho... polar.
Era ver o miúdo cheio de vontade a entrar pela água dentro, mergulhar, e eu a conseguir retirá-lo em bloco de gelo, embrulhá-lo em toalhas, esfregar-lhe os braços e as pernas, enquanto ele derretia ao sol. A miúda ainda aguentava uns dois minutos, mas, verdade seja dita, ela, se a deixássemos, até num lago gelado nadaria.
Enfim, assim entendi que a areia faz muita falta... Nas praias fluviais, os miúdos ou tomam banho ou, na impossibilidade disso acontecer, atendendo à temperatura da água, questionam-te quando é que podem ir tomar banho ... E tu sem um bocadinho de areia para escavar uns buracos e construir uns castelos...
...aqui, deste lado da montanha.
Sabes que estás de férias quando lês cinco livros em três semanas. Se posso comentar? Posso. Se posso dar a opinião? Claro que sim. E fazer umas citações? Também. Prometo, prometo...Quando acabar as férias...
Agora, não tenho tempo, estou a ler !
Cansado de me sacudir a toalha, ou incomodado pelos grãos que se acumulavam debaixo das costas, o homem da casa puxou-me o tapete, ou, melhor dizendo, a toalha, e lá fomos para onde não há "nem eira nem beira, nem pé de figueira" e, atrevo-me eu, nem grão de areia.
Ficámos alojados em terra com nome de dona rainha, bem longe do mar, mais ou menos dois ou três km depois do fim do mundo, o que me levou a perceber que não teria de me preocupar com areias na toalha, pois que nem areia há.
Nem areia, nem supermercado, nem loja, nem café, nem tasca, nem televisão, nem rede de telemóvel. Internet??!! O que é isso?!
O pão vem à terça-feira e chega duro porque é a última paragem do percurso por entre curvas e contracurvas.
Os habitantes residentes não são mais do que nove, a disputar os sete cães abandonados que afinal não são abandonados, mas que não são de ninguém, mas que afinal são de todos.
...aqui, deste lado da montanha.
Estão a ver o sapinho vermelho aqui em cima, no canto do post??Desamparem-me a loja, não me chateiem e parem de dizer que esta não sou eu, e que sou azeda, e que ando rabujenta, e tal, e tal... Não querem ler?? É só desligar a cruzinha do lado direito...
Odeio areia na toalha. Admito.
Não vejo muita graça nas calças descaídas que deixam antever ceroulas deprimentes ou cuecas estilo estas-roubei-as-ao-meu-avô, mas consigo vislumbrar, ao fundo, muito lá ao fundo, uma certa sensualidade num elásticos de umas cuecas estilosas ou num pedaço de renda branca. Mas, convenhamos, regos do rabo à mostra é demais!! Por muito modelito que se seja, nada pode impedir o riso crítico, quando deparamos com tal paisagem...
E sim, podíamos estar bem dispostos e desculpar as pobres figuras tristes, com o facto de estarmos na praia, ou no jardim, ou na piscina, onde, dizem-me!, tudo é permitido, até mostrar as intimidades, porque isto de a praia ser de todos tudo permite, mas não, não é o caso, e, entre garfadas de peixe grelhado ou lombinhos acabados de fazer, não há rego do rabo que se consiga suportar na ementa!!
...aqui, deste lado da montanha.
Ah e tal, porque não tenho tempo para ler. Ah e tal que ler é para ti que tens tempo! Hoje fui à praia. Para lá da areia na toalha, que eu odeio, estavam à minha volta umas quinhentas pessoas. Para além das cem que passeavam as gordurinhas em biquinis minúsculos e das outras cem que se davam ares de desportistas, havia cinquenta que brincavam, tomavam conta, ralhavam, com os filhos, e as restantes duzentas e quarenta e seis não faziam nada. A ler, a ler, estava eu, um inglês, um miúdo que lia o Correio da Manhã (nem sei se devia valer...) e uma adolescente. Ah! Pois, o tempo é mesmo o que fazemos com ele...
...aqui, deste lado da montanha.
Aviso: este post é deixaláverseeuconsigoparecerdesportistofóbico. Se é um dos meus dois, vá lá três, leitores habituado a leituras mais suaves e maternais salte para aqui.
Não sei se já o disse... Odeio areia na toalha.
Para além disso, porque é que eu vejo pessoas a correr na praia, como se não houvesse amanhã, quando os seus corpos são a prova irrefutável de que estas três corridas e duas caminhadas longas, que fazem nos oito dias em que vão à praia, são o único exercício que fazem no ano todo? Deixem-se estar sossegaditos. E comam mais uma bola de Berlim...
Cada vez estou mais certa de que estas pessoas devem ser as mesmas que nem têm calções de ciclista, mas não perdem um cicloturismo, ou participam em todas as maratonas e caminhadas solidárias, mas levam sabrinas, porque são confortáveis ...
...aqui, deste lado da montanha
Nas férias, para o bem e para o mal, na doença e na saúde, há casamentos. E nós vamos aos casamentos. Passamos fome, esperamos, pelo noivo, pela noiva, pelo saída da igreja, pelas fotografias, pelos noivos, pelas entradas, pelas fotografias, e temos fome, esperamos pela comida, primeiro um prato, depois o outros, e mais outro e à fome excessiva sucede a barriga que não aguenta mais e, afinal, aguenta ainda mais um pouco. Nada de novo, portanto.
E depois, há os sapatos. Já aqui falei desta obsessão que uma parte das convidadas mostra em escolher sapatos dois números abaixo ou com saltos dois centímetros acima. Resultado: antes da saída da igreja já tiraram duas vezes os sapatos para repousar os pés a ferver no chão frio de laje. E a seguir? Obrigam-se a trocar os belíssimos Louboutin pelos chinelos de praia Modalfa, mesmo logo depois de tirar a fotografia da praxe com os noivos. Dá Deus os sapatos a quem não tem pés. Enfim, estala o verniz, diria o Eça... A mim, apraz-me dizer "Chique a valer! Chique a valer!"
...aqui, deste lado da montanha.
Nas férias havia as festas da aldeia: festa de Nª Srª de Não Sei o Quê, festa de São Não Sei Quantos, era o tempo das romarias com direito a procissão e roupa nova a brilhar e sapatos apertados a estrear. E eu detestava. Das missas que apanhava sempre no fim, seguidas das procissões de desfile de modelos emproados, aos almoços tardios cujo objetivo era trazer para a mesa todos os manjares que pudessem confirmar os tempos de fome ultrapassados, detestava tudo. Detestava os bailaricos em que, como numa montra, me obrigavam a ficar nas filas da frente, para que os rapazes pudessem do lado de lá escolher-me, acenar-me a perguntar se queria dançar. E sim, eu queria dançar, mas não ali, não com aqueles que me pediam para dançar, nunca aqueles. E eu a ir dançar, a contar os minutos para a música acabar. E, de novo, a esquivar-me para trás da primeira fila, para não me verem, por favor. Destestava os pés apertados, os pés a doer, a roupa nova esticada pelo bacalhau, pela xanfana, pelo leitão.
Nas férias, quando havia as festas da aldeia, gostava das colchas estendidas nas varandas, vermelhas, amarelas, azuis acetinadas ou brancas, tão brancas, das melhores rendas das casas. Gostava das pessoas que ficavam nas varandas a ver-nos desfilar, cá em baixo. Invejava-os. Os ricos que não tinham de desfilar os seus melhores fatos, que ficavam ali nas varandas a atirar pétalas de rosas às cabeças de barro dos santos que passavam.
...aqui, deste lado da montanha.