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Em nome do Pai

por Ni, em 17.06.13

Sou católica por educação. Educaram-me para ser católica. Fui batizada, fiz a comunhão, a profissão de fé, o crisma e fui catequista.

Durante muitos anos consegui conciliar aquilo que me ensinavam na igreja com aquilo que aprendia na escola. Mas acreditava. Julgava que a fé era uma coisa mesmo muito forte, porque tinha de ser cega, porque era incongruente.

Deixei de ser catequista, quando vi o padre dar uma estalada num dos "meus" meninos a quem dava catequese. Senti aquela palmada em mim e deixei de acreditar em muita coisa, porque até o amor que não se vê tem de se sentir, para se dizer que existe.

 

Casei na igreja. havia tantas hipóteses de o fazer como de não o fazer. Mas, ao contrário do que se possa pensar, tê-lo feito só me fez acreditar um pouco menos na religião em que me educaram. Que padre tem a capacidade de me aconselhar a levar uma vida a dois, a três e, agora, a quatro, quando vive, tão facilmente, sozinho? O que sabe um homem de dedicar a vida ao outro, quando o único outro é um Deus?

 

Batizei os meus filhos na igreja, porque, já aqui o disse, faço muitas coisas por amor. Faço muitas coisas para agradar aos outros e isso não me incomoda. Nada.

 

Há um ano atrás chegou a altura da catequese da miúda. Não fui capaz de lidar com esta dificuldade em fingir que sou católica e que acredito naquilo em que, afinal, já não acredito. Acredito num Deus que é o amor, que é a felicidade, que é o bem. Para lá disso, não sei explicar mais nada, não tenho mais respostas. A miúda não foi para a catequese.

 

Há uns meses começou a pedir-nos que queria ir. Os amiguinhos iam, queria aprender a rezar...

Parei para pensar. No fundo a essência do catolicismo e os seus princípios são bons: um homem que morre por amor aos outros, capaz de perdoar, que espalha amor pelo seu caminho, é uma bela história de amor para ensinar aos meus filhos. 

A miúda vai para a catequese, resolve-se. Livro-me assim de uma série de discussões em vão ( e eu não discuto religião, não vale a pena!).

 

No sábado à tarde, enquanto falávamos na necessidade de começar a ir à missa (ah! pois, temos de voltar à missa...), diz ela:

- Em nome do Pai, do Filho, do... Ó mãe, porque é que é em nome do pai, do filho e não é em nome do pai, da mãe e do filho?

Eu: 

- Porque antigamente os homens eram uns machistas e não consideravam as mulheres para nada.

O meu marido, chocado: "Não, filha, é porque pai era Deus e...

Eu, outra vez, a tentar suavizar as palavras:

- Só os homens é que sabiam ler e escrever, as mulheres não importavam muito e... por isso, só os homens é que discutiam as coisas e eram padres... nem há padres, não é?! 

Desisto. Calo-me.

O homem da casa está chocado demais. Não está preparado para isto. Não estamos preparados para isto. Calamo-nos.

Ela, por fim:

- Isso quer dizer que nunca vou poder ser padra, não é? 

 

Pois, isto vai ser um processo difíííícil!!!

 

...aqui, deste lado da montanha.

 

 

 

 

 

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Profissão: professora

por Ni, em 17.06.13

Sou professora. Gosto tanto, tanto da minha profissão. Gosto tanto dos meus alunos. Gosto tanto da escola, das salas de aulas, de ensinar, de aprender. 

Nunca tinha feito greve. Em dia de aulas não faço greve. Em dia de aulas ensina-se. Em dia de aulas, não se mandam os alunos para o recreio, antes da hora. Gosto tanto dos meus alunos. Por isso, não faço greve às aulas.

 

Hoje estou em greve. Porque gosto tanto da minha maltratada, malvista, malpaga profissão.

Que os alunos e os pais se preocupem, se indignem, se revoltem, se incomodem! Sim, por favor! Sim, por favor, reparem que os professores estão em greve...

 

...aqui, deste lado da montanha.

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