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Dizia há pouco o Quintino que um amigo é aquele que nos aponta o que de mau há em nós. É, deve ser, mas é aquele que aponta o que há de mau em nós, sem nós o levarmos a mal, sem que fiquemos a pensar que é inveja, ou crítica, ou ignorância. Tudo tem um outro lado. Um amigo não é só isso.
Um amigo é aquele que passa os bons momentos connosco. Não gosto de frases feitas, já sabem; também não gosto de ideias feitas e quando me dizem que os amigos estão nos momentos maus, eu sei que estão, mas nos momentos maus da minha vida não estão lá só os meus amigos, estão os outros, os abutres da tristeza alheia, os curiosos, os conhecidos.
Agora, nos bons momentos... Ah! aí estão os meus amigos, de certeza. Porque sou o raio de uma antissocial descarada que só convido para estar comigo quem me apetece que esteja comigo.
Se não faço fretes, se não estou com ninguém por favor? Claro que faço. Claro que estou. Pelos outros, pelos que eu amo e isso não me custa nada. Nadinha.
Mas por mim, só estou com quem eu quero... como a música...
...aqui, deste lado da montanha.
Doem demais as dores dos nossos filhos. Senso comum, bem sei, mas não se apaziguam as dores com o hábito ou o tempo.
Hoje era dia de frenectomia (cortar o freio do lábio superior), para ver se os dentes da miúda ainda se conseguem aproximar o suficiente para não ter de vir a usar aparelhos.
Os procedimentos foram fáceis: mentalização da miúda, preparação da miúda, aliciação da miúda, com os gelados, os amigos que já fizeram e com o tão gira que ela vai ficar!! Enfim, na hora de partir para o dentista, a certeza de haver birra caso não se fizesse a cirugia era certa, tal era a mentalização da miúda. Convencida a filha, era hora de pensar na mãe... Ah! Raios! mais vale nem pensar no assunto. O coração fica tão, tão, pequenino que parece que vamos desaparecer a qualquer momento e não vale dizer que é uma coisa fácil, e são só uns pontinhos e uma intervenção a que os médicos estão habituados... mais vale não pensar no assunto.
Sou forte. Sou uma mãe daquelas que não se desmancha. Sou toda eu coragem e vamos lá, que o que tem de ser, tem de ser e na hora de os segurar para dar pontos ou espetar agulhas e dar antibióticos endovenosos de quarenta minutos(a pior experiência com a minha filha) quero ser eu a estar lá com eles... chamem-me louca, sei lá... sou a mãe má que os obriga a sofrer, mas também sou eu que estou lá para dar o meu colinho e colinho de mãe cura tudo.
Assim, hoje assisti a tudo: cortar, tirar, jogar fora o que estava a mais, suturar. E foi fácil. Viva a anestesia!
Pior foi uma horita depois. Choro, lágrimas, lágrimas, choro. Agora está a analgésicos, gelados, e colo, muito colo, e ainda bem, porque as dores deles doem-me a dobrar.
...aqui, deste lado da montanha.
Primeira aula de BTT a sério, entenda-se, na terra, estradão, areia solta, caminhos de terra batida. Uma lição imensa sobre bicicletas, travões, caminhos... e a vida.
Querem ver? Tal como na vida:
Primeira regra: para voares sobre os obstáculos, primeiro tens de aprender a travar e a desviar-te deles;
Segunda regra: quando tens uma parede enorme(gíria para subida íngreme) pela frente, não te fixes no muito que falta para chegar ao fim, conta mentalmente cada pedalada que dás até lá chegar;
Terceira regra: há caminhos que, por muito longos que sejam, não te levam a lado nenhum, porque não têm saída e só te deixam uma hipótese - voltar para trás;
Quarta regra: quando superas um teu qualquer limite, é infinitamente melhor teres alguém ao teu lado!
Obrigada ao treinador por tão boa lição de vida...
...aqui, deste lado da montanha.
Cresci. Fiquei velha, não velha de velha, mas velha de cota, velha dos miúdos dos 12 aos 20. No entanto, ainda esta vontade de criar qualquer coisa, com as palavras, com as imagens, com as coisas. Criar, criar, criar. Uma flor que se troca de lugar, uma palavra que se reinventa, a matéria que se transforma, um bolo que nasce. Há dias em que parece que a criatividade não me cabe na pele da idade. Não resulta. Não devia ser. Há algo errado em certas vontades!
...aqui, deste lado da montanha.
Quão estranha pode ser uma vida? O tempo de perceber que uma tarde boa pode ser uma tarde estranha em que apoias um candidato a presidente da câmara que quase não conheces, de uma câmara que quase não conheces, de um partido político que quase não conheces. O tempo de perceber que uma tarde boa pode ser uma tarde estranha em que vais festejar o aniversário de um coreto que quase não conheces, duma aldeia que quase não conheces, e ouves a escola de música e a filarmónica e associação e comes uma bifana e bolos e, se não soubesses, dirias que cresceste por aqui e és da terra.
...aqui, deste lado da montanha.