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Adivinha quem vem jantar

por Ni, em 31.01.13

Tenho esta fantasia de organizar uma jantarada com uma dezena de pessoas que gostaria mesmo de conhecer. Ficávamos ali a jantar pela noite fora, a petiscar e a beber uns copos, e conversar, conversar, conversar, coisas sem importância com a importância toda do mundo.


 


Para jantar, e a encabeçar a lista, Ricardo Araújo Pereia, porque é genial, e, entre genial e génio, confunde-me as ideias; Rui Veloso, pela música de sempre e para todos, e , entre o ar boémio e de bon vivant, há uma guitarra para animar a noite; Pedro Boucherie Mendes, pela ironia, a arma mais mordaz-eficaz dos inteligentes com pretensões a ser diferente; Cristiano Ronaldo, porque só quem não o conhece pode não gostar dele, e é grande o rapaz; Valter Hugo Mãe, porque Saramago morreu cedo demais, e, contrariamente ao que se apregoa, os amores não são eternos, são efémeros e buscam substitutos ao virar da esquina.


 


Vou a meio da minha lista. Políticos não entram, padres também não. Não sei explicar bem porquê, mas vejo-os mais ou menos ao mesmo nível.


 


Mulheres, não as encontro. Divido-me entre a frustante convicção de que não há mulheres com quem valha a pena jantar ou a hipótese de eu mesma estar embebida da mais pura inveja em relação aos outros elementos do meu género, o que, admita-se, só viria confirmar a minha condição feminina.


 


Bem, lembrei-me agora que, em desespero de causa e para que a causa não desepere, pois tanto homem junto também não pode ser bom, era capaz de convidar a Erica Fontes. Sempre garantia que  os rapazes tivessem alguma razão para aceitar o convite...


 


Para ler, Eça de Queiroz, O Crime do Padre Amaro.


O jantar: "vasta terrina de caldo de galinha" ("sopa"); cabidela;"côdea de pão ensopado no molho"; ("a cabidela hoje saiu-me boa!... de tentar Santo Antão no deserto!"); "pires de pimentões escarlates"; "frescas malgas de azeitonas pretas"; vagens; broa; "nacos brancos de peito do capão recheado", um bocadinho de asa; vinho da Bairrada em "bojudas canecas azuis"; arroz-doce (o"arrozinho"); vinho do Porto de 1815, de que "não se bebe todos os dias", "castanhas molhadas no vinho, pão torrado, café" ("todos cambaleavam um pouco, arrotando formidavelmente"), "cigarros".



Ementa pronta, faltam-me os convidados...

 

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Demónios nos outros

por Ni, em 28.01.13

A magia acontece quando as palavras ganham vida e se concretizam. Um mimo para os leitores que por aqui vagueiam, entre demónios.


 



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A autista na leitora

por Ni, em 26.01.13

A leitora é egoísta. A leitora é antissocial. A leitora não existe sem um toque de autismo, de redoma em volta de si e do seu livro.


 


Acima de tudo, nos livros, o prazer de estar a sós comigo. 


 

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Carta (esboço)

por Ni, em 25.01.13




"Lembro-me agora que tenho de marcar um


encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir até de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possivel
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros."


Nuno Júdice
in Poesia Reunida






A lembrar os meus outros amores. Tantos, para lá de Pessoa. E a rasar, quase sempre, a grandeza do "meu" poeta.

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Inveja

por Ni, em 24.01.13

"Queria ser chuva, escorrida, irracional, no teu rosto,


a beijar-te, irracional, percorrer-te,


tocar-te e, ainda assim, irracional.


Estar em ti, inundar-te. 




Queria ser vontade e desejo, e ser chuva, e


uma vez, por uma vez, não ficar a ver a chuva chover.


 


Inveja!"


dsfj, o livro das horas 






Peço desculpa. Aos que chegam de novo, aos que não sabem, aos que não podem saber, peço desculpa.


Aos outros, aos que me conhecem de outro lado, nada de novo, portanto... às vezes, muitas vezes, as plavras não são minhas, sou eu que sou toda delas.




 

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O outro lado da tempestade

por Ni, em 21.01.13

Sábado foi dia sem luz. Os miúdos, desesperados pela falta do Panda e do Disney, viram-se obrigados a brincar ao faz de conta com os carrinhos e as bonecas, viram-se obrigados a arrumar os puzzles e os legos, cada um na sua caixa; o marido, desesperado pela falta da internet e do telemóvel, viu-se obrigado a arrumar os terraços, a fazer um almoço especial para todos nós, viu-se obrigado a organizar os baralhos de cartas com os miúdos, enquanto lhes explicava como se jogava; eu, desesperada pela falta de energia para lavar a roupa, secar a roupa, passar a roupa, vi-me obrigada a arrumar os quartos dos miúdos, vi-me obrigada a organizar papéis e livros e cadernos e, no fim, ainda brinquei um pouco com eles... 

 

Sábado foi dia sem luz. Jantámos à luz de velas. Muitas... e foi tudo uma brincadeira. Os miúdos tiveram as suas histórias da noite mais compridas, porque não havia pressa. Depois, ficámos à lareira, a ouvir música no pequeno rádio a pilhas, a conversar, enquanto eu fazia crochet...

 

Sábado foi um dia sem luz, muuuiiiito bom. 

 

...aqui, deste lado da montanha.

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A nuvem

por Ni, em 14.01.13

A nuvem veio do outro lado da montanha, negra e aterradora. 


 


 


A nuvem cobriu os campos com o seu manto frio, ensombrou as mentes dos homens. As mulheres correram a fechar as janelas, as crianças largaram os brinquedos espalhados pelo jardim.


E o tempo foi de espera... eletrizante, suspenso, sufocante e mudo, a anunciar tempestades.

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Feira das palavras (2)

por Ni, em 14.01.13

E há também estes dias em que as minhas personagens insistem em não me sair da cabeça e os demónios têm de ser aplacados.


 


"Gustavo estava satisfeito com a vida que levava. Mas não suportava aquele estado geral de vidas paralisadas por um medo alojado nas pessoas que o rodeavam. O medo transformava as pessoas. Despia-as. E a nudez mostrava as fraquezas de todos, até as suas. Sim, porque ele acreditava, ele queria acreditar, e, quando se quer acreditar, mais cedo ou mais tarde, acaba-se por acreditar, que aquele olhar não passara de uma fraqueza.


Os seus olhos cruzaram-se por um instante, breve demais para ser um instante. E, agora, não entendia como num instante, breve demais para ser um instante, coubera tanta palavra. Hoje sonhei contigo. Há anos que não sonhava contigo. O teu rosto não passa já de um esboço e mesmo no meu sonho és fugaz, és ausência. E não compreendo, ainda hoje não compreendo, como é que a tua ausência pode encher desta forma a minha vida."

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A histeroneurastenia da leitora

por Ni, em 11.01.13

Desconfio de pessoas que dizem nunca me arrependo de nada.


A sério??!! Eu estou sempre a arrepender-me...

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Há sete anos atrás, eu estava num apartamento frio e húmido, emprestado temporariamente, numa terra estranha e nova, onde não conhecia nem o caminho para o supermercado, sozinha, enquanto esperava o final dos 30 dias que faltavam para a minha filha nascer. Há sete anos atrás, eu fui sozinha à maternidade, para que a médica me mandasse para casa, pois que era muito cedo e ainda faltava um mês... há sete anos atrás, eu voltei a ir sozinha à maternidade, guiando um carro cujos solavancos e acelerações marcavam as contrações da condutora. Há sete anos atrás, por volta da meia noite, a médica mandou-me o marido para casa e mandou-me dormir pois que ainda era muito cedo e só lá para o final do dia de amanhã ou, quem sabe, depois, porque eu é que parecia a mais apressada...

E poucas horas depois a minha filha nasceu. O pai não chegou a tempo. O pai não estava presente, nem a minha mãe, nem a tia, nem o gato. Foi assim como tinha de ser. Eu e ela. 

 

O nascimento da minha filha marcou uma mudança tão grande na minha vida, que eu costumo dizer que não mudei nada na minha vida, apenas mudei de vida... 

Não sou nada o género de pessoa para dizer que a minha vida é os meus filhos. Não consigo. Então o que é que eu faço aos trinta e um anos que vivi antes deles? Esqueço? Escondo debaixo do tapete? Gosto de pensar que a minha vida é cheia de os meus filhos, e o meu amor, e a minha família, e os meus amigos, e a minha casa, e as minhas coisas, e os meus livros, e o meu trabalho, e os meus alunos. Tanta coisa!! 

 

No entanto, mudei de vida, sim. Por ser mãe, eu não sou diferente. Por ser mãe, eu sou outra.

 

...aqui, deste lado da montanha.

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