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Receita de Ano Novo

por Ni, em 31.12.12

Para você ganhar belíssimo Ano Novo



cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

- Carlos Drummond Andrade

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A preguiça da leitora

por Ni, em 31.12.12


A memória atraiçoa-me, mas tenho quase, quase, a certeza de que algures pelos finais dos anos 80 e princípios de 90, em que devorei centenas de almanaques "patinhas", comprados sempre por uma colega da escola, li, uma vez, um especial que oferecia ao leitor a hipótese de ir escolhendo a continuação da história. Era tipo um "você decide", mas sucessivo. Por exemplo, o tio Patinhas tropeça numa moeda, o que acontece a seguir? Apanha-a e esconde-a no bolso (continua a ler na página 10). Apanha-a e investe numa promoção de guarda-chuvas (continua a ler na página 20). E a história era, afinal, duas histórias que se faziam à medida das nossas vontades. E, o melhor de tudo era que, assim que terminavas a leitura da tua primeira versão, voltavas atrás para ler as outras hipóteses que tinhas saltado e acabavas por ter uma outra história...




Tinha um lado mau, é certo. O leitor é preguiçoso, gosta que lhe escolham os finais, que decidam por si que destino vai ter esta ou aquela personagem, mas a possibilidade de voltar atrás e fazer tudo de forma diferente tinha um gosto incomparável. Melhor do que escolher investir em guarda-chuvas era saber que, no minuto seguinte, uma tempestade inesperada levava o rico tio Patinhas a um lucro de mais de 1000%...


Melhor do que poder voltar atrás e escolher outro caminho era saber aonde esse caminho nos levaria... 


Fora de páginas, isso é absolutamente impossível, por isso não gosto de escolhas. Não sei se já o disse, sou balança, não gosto de ter de escolher. Quero que me mostrem as coisas e digam que são assim. Ponto final. Depois, vou criticar, apreciar, mudar, sugerir, gostar, não gostar, mas escolher, não. Não quero. Não se faz isso a uma balança. Por isso sou leitora compulsiva, não quero decidir nada, quero que um qualquer autor decida por mim, tudo. Quero só preguiçar na leitura e, depois, criticar, apreciar, mudar, sugerir, gostar, não gostar.


 


Assim sendo, e porque este post já ultrapassou há umas vinte linhas atrás o limite razoável de um post grande demais, sei lá se na passagem de ano é melhor ficar ou ir embora, se é melhor começar o ano sozinha ou acompanhada, sei lá se quero dormir toda a noite ou dançar toda a noite… quem me dera poder saltar páginas, e conhecer todos os finais possíveis para as minhas escolhas.


 


Não podendo, dêem-me só um livro para preguiçar. Até pode ser "tio Patinhas"...


 

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A vontade de um outro ano

por Ni, em 28.12.12

Dói-me 2012. Por nada em concreto, mas pelos dias que passaram , doentios, tacanhos, incertos. De 2012, só vou guardar as pessoas. De 2102 só vai ficar o sabor amargo na boca da consciência de que, afinal, não somos perfeitos, não fazemos tudo, não dizemos tudo. Fiquei imensamente mais pequenina em 2012, mais fraca, mais só, mais triste... 

 

Por isso, e porque as adversidades não nos tornam mais fortes, e porque, espremido o ano, nada de mau aconteceu e, ainda assim, me dói este ano; por isso mesmo, venha 2013!

 

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2012 livros e outros demónios

por Ni, em 28.12.12

 


 


2012 foi assim! 


Um livro por mês, mais os dois pilares, que estão lá sempre, porque têm de estar... Saramago e Pessoa! Hão de contar treze, porque até os comedidos cometem excessos e há tentações a que não se pode fugir. A classificação é, por ordem, da esquerda para a direita: Muito Bom; Bom; Bom (até metade); Razoável (não é uma escritora com que me identifique); Razoável; Não Consegui Ler (sim, não consigo ler Lobo Antunes,  e depois?! não deixo de tentar...); Bom (surpresa, este Boucherie Mendes); De Férias; De Férias; Bianca com suaves traços de BDSM (não chega sequer à categoria de classificável, mas valeu pelas conversas à volta); Razoável; Muito Bom; Excelente.


Já dos demónios, foi assim este ano mau, cheio de estar sozinha, cheio de correr para todo o lado, com os miúdos, para os miúdos. 2012 foi este ano de desassossego e inquietação, de correr atrás do tempo, atrás de nós, para descobrir que não somos, afinal, quem julgávamos que éramos, para descobrir que as certezas são repletas de incertezas, que nos atormentam. Demónios.

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Dentro do sapatinho

por Ni, em 27.12.12

Já se sabia, o Pai Natal não poderia carregar com todos os livros que lhe fui pedindo, mas é sempre bom saber que ele está atento...


Este já está à espera da sua vez, na lista dos "a ler imediatamente".


 


 

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A autista em mim... no Natal

por Ni, em 25.12.12

Eu sei. Há séculos que não venho ao outro lado... mea culpa, mea culpa. Só posso pedir perdão aos meus dois, vá lá três, abandonados leitores. 

 

Tirando isso, não escrevo mensagens de Natal. Nunca escrevi. Há anos recebia dezenas de sms mais ou menos iguais, a desejar mais ou menos a mesma coisa. Respondia a cada uma, com a certeza que a minha resposta era imensamente mais personalizada do que noventa por cento das que recebia. Não escrevo mensagens de Natal. Nunca escrevi e, com os anos, as mensagens foram diminuindo... 

 

Não escrevo mensagens de Natal. Nunca escrevi. Com o facebook, chegou uma nova era de mensagens. As minhas respostas deixaram de ser personalizadas, resumem-se, antes, a um gosto igual a todos os gostos. 

 

Não escrevo mensagens porque acredito que quem me quer desejar um Feliz Natal se há-de esforçar por falar comigo. Eu nem tanto, é a autista em mim. Não ligo... 

 

Este ano só recebi 3 (?!!!) sms de Natal e comentava que, com a chegada do face, as pessoas foram, realmente, esquecendo o telemóvel. O homem da casa, socialmente classificável como o lado oposto do autismo, disse-me que não, que já tinha recebido umas dezenas de sms...

Eu não, não tinha recebido nenhuma. Os meus amigos são mais do tipo de ligarem e dizerem, de frosques, sem aquecimentos, "então, isso é que tu passaste por cá para me dares um beijinho de Feliz natal?!". E, pronto, ficamos assim, sem meias medidas, sem desculpas, apanhados a roubar rebuçados...

 

...aqui, deste lado da montanha.

 

 

 

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demónios do fim do mundo

por Ni, em 20.12.12

O mundo acaba amanhã. Dizem.


É tempo de decidir quem queremos ser do outro lado.


 


Entre o céu e o inferno, passo estas últimas horas atormentada, sem saber para onde cair. A ser verdade aquilo que nos têm andado a contar, o céu é o paraíso e o inferno, o inferno!


Não posso decidir em função das pessoas que vão comigo, porque essas vão estar por todo o lado, e, mesmo assim ,não sei como caberemos todas. Talvez, com tanta gente, o céu se torne um inferno... 


 


Havendo, pois, pessoas nos dois lados, tenho de decidir em função das coisas, leia-se livros, que são a única coisa que eu quero levar deste mundo... 


 


É sabido que à volta da igreja sempre houve livros. Aliás, os livros nasceram da igreja e para a igreja, não importa assim tanto que alguns se tenham tornado de tal forma rebeldes que tenham passado a ser proibidos... mesmo assim, e pelas imensas, enormes e mais belas bibliotecas que são albergadas pela Igreja,no céu deve haver muitos, muitos, livros e isso, bem, isso é uma tentação!


 


Para além disso, no inferno arrisco-me a ver alguns dos meus livros transformados em cinzas, pois todos sabemos bem que livros e fogueiras infernais são coisas que andam de capas e cavacas voltadas. Há que ponderar!


 


Por outro lado, no céu não devem deixar-me entrar com os meus anti-evangélicos de Saramago, nem com os meus erótico-pornográficos de Eça, nem com os meus psicótico-compulsivos de Pessoa, ou os meus pró-revolucionários de Garcia Marques, ou os... bem, provavelmente, se eu quiser ir para o Céu, São Pedro confiscar-me-á todos os meus livros, com exceção da Bíblia e da biografia do papa João Paulo II. Não me parece que venha a ser muito feliz no Céu...


 


Assim, vou ali portar-me muiiiiiito mal, para ver se amanhã não há erros...


 



 


 


 

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o sustento diante do sol

por Ni, em 16.12.12

2012 foi um ano mau. Dois anos depois da morte de Saramago, percebi, tomada de tristeza, e espanto por tão tardia percepção , que não voltaria a ler um novo livro seu. 


2012 foi um ano mau, não por causa dessa certeza fria, mas também por causa dessa certeza fria. É como se, de repente, percebesse que não há pelo que esperar.


 


Depois, sei lá porquê, ouço este nome, valter hugo mãe, e continuo sem compreender por que razão nunca li nenhum livro dele. Ah! e continuo sem ler, e continuo sem ler. E depois, há duas semanas, vejo o livro, a capa tenta-me, o nome a chamar-me, a atrair-me e eu já comprei o meu livro do mês e os dias são de contenção, e eu compro-o só porque sim, porque é Natal, talvez não compre o meu livro do mês de dezembro...


 


Ao fim de duas páginas não quero acreditar que seja tão bom assim, não vou ler mais, não pode ser tão bom assim! Escondo-me o livro.


 


Ontem recomecei. Uma leitura que não quer ter fim, que deseja o próximo, e o próximo, e o próximo parágrafo. Uma leitura que não é feita de histórias. Eu não gosto de leituras de histórias. Uma leitura que é feita de palavras e de pessoas. Pessoas tão nuas, tão cruas; palavras tão mágicas, tão cruas. Raios! Mas porque é que eu não li nada deste homem antes?


 


Alegra-se-me 2012. Finalmente, há pelo que esperar... Para já, pode mesmo ser, apenas, esperar pelo Natal. A juntar, na carta ao Pai Natal, o nosso reino, o remorso de baltazar serapião e o apocalipse dos trabalhadores.




(..) era uma fantasia e eu só caí nela porque queria tanto encontrar algo que me sustentasse diante do sol.(...) não despreze nada, senhor silva, agarre-se a uma fantasia, se for boa, que a realidade é bem feita desses momentos mais espertos de lhe fugirmos de vez em quando.(...)"
"a máquina de fazer espanhóis"
de Valter Hugo Mãe

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Toda a gente já leu O Principezinho, ou, no limite, já toda a gente ouviu excertos, frases, partes d' O Principezinho. Eu gosto do livro. Já o li. Já o reli. Costumo oferecê-lo a pessoas de quem gosto muito, muito. É um livro para crianças, simples, mas com muitos segundos sentidos, para adultos.


 


E podia ficar por aqui, e este seria o post perfeito. Mas, e utilizando também uma frase do livro, "Infelizmente, eu não sei ver ovelhas através de caixas" e, depois de leituras e releituras em aula (O Principezinho faz parte do programa de Português), começo a descobrir um outro sentido nas palavras que, durante muito tempo, li ingenuamente.  


 


Afinal, todos somos um pouco reis, que tentamos reinar ainda que no nosso microrreino de nós; bêbados, que procuramos prazer naquilo que nos faz esquecer que não temos prazer; geógrafos, que conhecemos os lugares dos livros; homens de negócios, que vivemos às voltas com as contas; vaidosos, que nos autoadmiramos; acendedores de candeeiros, a viver em função de tarefas com horas marcadas.


Somos aviadores desistentes dos sonhos de ser artistas.


Afinal, o tempo que dedicas à tua rosa pode não a tornar tão especial assim.


Afinal, o essencial não é só invisível aos olhos. Afinal, o essencial vê-se.

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Sem sombras de sol...

por Ni, em 03.12.12

A propósito do livro de que todos falam... Encontro-lhe muitas mais do que 50 sombras, uns milhares de sombras que se enleiam em clichés, baratos, baratos, a assemelhar-se a uma versão XL das Bianca e Sabrina que devorei na minha adolescência: rapariga ingénua, pobre e virgem e rapaz vivido, rico e experiente. 


 


Enfim, como uns bons milhares, caí na armadilha da curiosidade, instigada pelo isco do BDSM, e lá fui lendo o 1º da trilogia, incentivada pelo lado erótico-pornográfico da maior parte das páginas... O segundo obriguei-me a ler. Afinal, tinha de haver mais qualquer coisa, que eu não estava a conseguir captar, para justificar o tal sucesso de vendas. 


 


Obriguei-me a ler, vejam só...às vezes imponho-me cada castigo!! Resultado: nada, absolutamente nada, para além de uma mísera literatura de cordel. Apenas a lembrança do maravilhoso professor António Branco (sim, porque eu tive muitos professores maravilhosos): "um bom livro não é aquele que vende muito... nunca se soube que se tivesse que anunciar aos sete ventos o número de edições de um Eça, de um Saramago, de um Pessoa!"


 


À parte isto, julgamentos e opiniões que são tão meus que, só por isso, valem aquilo que valem, não julgo ninguém por aquilo que lê, mas apenas pela intensidade com que o faz. 



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