Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os miúdos cá de casa não páram de crescer. Jamais imaginei que, com cinco anos apenas, a minha princesa (pequenina, bebé) ficasse eufórica, até às lágrimas, gritos e castigo (por esta ordem) por causa de umas sapatilhas da Hanna Montana. Mas quem raio é a Hannah Montana???
Hoje lá calçou as sapatilhas e foi para a escola como quem vai calçada com sapatos de ouro... Miúdas!!
...aqui, deste lado da montanha!
Hoje apeteceu-me ovos com açúcar, grão de bico com massas, posters de santos colados nas paredes com cola feita de farinha amassada, acordar ainda de noite para beber um chá, adormecer com as galinhas (às seis da tarde) e não ter televisão, nem rádio, nem relógio... Hoje lembrei-me de quando dizias que não podias ficar na nossa casa porque tinhas as galinhas sozinhas, ou dizias" batatas são para os gatos" e " o que guarda o frio, guarda o calor". E isto leva-me a creditar que as pessoas só morrem realmente quando nos esquecemos delas.
...aqui, deste lado da montanha.
Também não está certo abandonar assim os meus dois, vá lá três, leitores. A inspiração não me falta, nem tão pouco o assunto. O problema são as palavras que teimam em não querer ser lidas. Escorrem-me pelos dedos, em busca do teclado, mas escondem-se e tornam-se apenas minhas. Venho até cá, escrevo um post, guardo-o em rascunho; escrevo outro post, guardo-o em rascunho; no dia seguinte, mais um rascunho... Receio que O outro lado da montanha esteja a tornar-se num rascunho do outro lado da montanha .
...aqui, deste lado da montanha.
Deixei de ver telenovelas aí há uns três anos atrás. A última que eu vi (não me lembro bem o nome e também não me apetece ir ao google espreitar, mas quem viu, sabe: era a do Foguinho) mudou de horário umas quinhentas vezes, no mínimo. Eu cansei-me de tal modo com aquela falta de respeito que resolvi não voltar a ver telenovelas. E não vejo. Nenhuma, em nenhum canal, a nenhuma hora.
Confesso, porém, que agora tenho ouvido a publicidade a uma telenovela que vai começar na SIC e que, por aquilo que ouço, reúne duas boas razões para eu mudar de ideias: gosto da música (Amor Electro - A máquina); gosto do slogan (Ninguém é o que parece).
Parecia perfeito, não fosse o genérico manhoso e lamechas, à portuga: os maus são muito maus, os bons são muito bons... Ninguém é assim!
...aqui, deste lado da montanha.
Eu queria poder voltar a estudar mais um bocadinho, mas hoje é tão caro ser estudante como há 25 anos atrás. Juro que se a recompensa de ter boas notas fosse continuar a estudar, como há 25 anos atrás, eu teria as melhores notas da turma, como há 25 anos atrás... Não sendo assim, resta-me encontrar um Mestrado bem, bem baratinho, ou ir aos saldos e torcer para que não tenha defeito.
...aqui, deste lado da montanha.
Eu gosto de Lisboa. Eu não gostava nada do Porto, mas este ano, preconceitos à parte, lá resolvi oferecer-nos uma visitinha de dois dias à invicta. Resultado: mudei de ideias. E ainda bem! O Porto é pequeno, tem monumentos únicos, lojas antiquíssimas, uma vista maravilhosa da ponte ferroviária D. Luís, francesinhas deliciosas e, principalmente, é acolhedor. As pessoas são simpáticas e eu, que só falo com estranhos e faço conversa de circunstância, sob ameaça de quase-morte, quando dei por mim, estava a contar de onde era, porque estava ali e para onde ia, ao empregado do café...
Vem esta mudança de opinião a propósito do passeio que fizemos hoje a Lisboa. A ideia era percorrermos as ruas da baixa, os jardins, o Rossio, tirar umas fotos, comer um gelado... Os edifícios continuam maravilhosos, os cafés e as tascas são, ainda, apetecíveis, a grandiosidade da cidade impõe-se a cada passo, mas, tristeza das tristezas, falta coração à nossa Lisboa. As pessoas caminham desconfiadas, sem boas-ondas. Há miúdos que traficam descaradamente, há ciganos que nos oferecem droga nos cruzamentos, há pedintes (pelo menos dois vieram ter connosco, mas havia também muitos espalhados pelas ruas), há grupos de africanos, indianos, chineses, que aguardam ( o homem da casa diz que esperam por emprego) e nos olham e nos fazem sentir como se não pertencêssemos ali...
Assim estava Lisboa. Uma casa linda, uma péssima anfitriã. Valha-nos a ginjinha que continua boa...
...aqui, deste lado da montanha.
O meu pequeno foi à piscina, a sério, com professora, touca e chinelos, pela primeira vez. Adorou. Eu também. Adoro as brincadeiras, o contacto corpo a corpo, aquela dependência-confiança, limpa de qualquer réstia de receio, nas mãos que o seguram.
Não é um peixe, como a irmã, que gritava, com quanto ar tinha nas pulmões, digo, nas guerlas, assim que a fazíamos sair da água ou que, ainda hoje, nos dias de piscina, acorda a falar na piscina e adormece a falar do próximo dia de piscina, como eu dizia, não é um peixe, como a irmã, mas, certamente, pelo que se viu, será um brilhante golfinho.
...aqui, deste lado da montanha.
"LADY MACBETH - (...) Mas quem poderia imaginar que o velho tivesse tanto sangue no corpo?" soam-me, gritantes, ameaçadoras, a propósito de limpezas de setembro. Mas quem poderia imaginar que tivéssemos tanto pó na casa?
...aqui, deste lado da montanha.
Desde que me lembro de ser gente que o ano começa em setembro. Mesmo ainda em pequena, amava estes dias de cheiro a livros novos, de encadernações que tinham de durar todo o ano, de experimentar novas formas de escrever o meu nome, para chamar minhas às coisas novas. Era por estes dias de setembro que, chegada a casa, lia, ansiosamente, todos os livros novos, enquanto a minha mãe chamava por mim para terminar uma qualquer tarefa da casa.
Mais tarde, setembro continuou a significar um ano novo, mas agora era já um mês apressado, de saber hoje à noite onde teria de ir viver amanhã. Terrível. Dias de ansiedade, mas, ainda, a representar um novo ano, novas terras, novas casas, novas pessoas, eventualmente, novos amigos, novos alunos, novas culturas, novas vidas.
Agora, setembro continua a trazer o início do ano, com as promessas de que a partir de hoje é que vai ser, os meus meninos regressam à escola, e compramos cadernos e bibes, e fazemos limpezas de verão, e, este ano é que vai ser, cuidado com a alimentação, ginástica a sério, casa sempre arrumadinha, roupa passada, os livros organizados, poupar algum dinheiro... É, este ano é que vai ser.
Pelo menos, até amanhã.
...aqui, deste lado da montanha!