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Esta condição de ser mãe pega-se-nos à pele, entranha-se nos poros e acompanha-nos em cada momento das nossas vidas. Quando se é mãe, não à "volta atrás", nunca mais se deixa de o ser. E isso é bom, ah!, sim, é muito bom! Mas transforma a tua vida numa outra vida, que nunca é já só tua. Não acredito naquelas pessoas que dizem "ah... eu não mudei a minha maneira de ser por ser mãe, eu nunca alterei os meus planos por ser mãe...". Impossível!
Eu, pelo contrário, procuro entre esta coisa de ser mãe vestígios de mim, tento resgatar-me aos dias inteiros a ser mãe, porque sou mãe a tempo inteiro, todos os minutos da minha vida, mas, contra algumas expectativas, não quero ser apenas mãe, quero ser eu, quero ser Alma Ni, quero namorar, ler, ensinar, dançar, conversar. Sou egoísta? Talvez. Mas que mal há num egoísmo que, tenho a certeza, torna a vida dos meus filhos melhor?
...aqui, deste lado da montanha.
Acordar com um hálito quente na orelha que sussurra "amo-te!" e, entre o sonho e a realidade, abrir mansamente os olhos e mergulhar no castanho-verde-dourado dos teus...
...aqui, deste lado da montanha.
Hoje devia ser dia da mãe. Hoje eu escrevi um post, para elogiar o meu arrojo, a minha iniciativa, a minha indospição para o comodismo envelhecedor. Hoje eu gabei a minha procura pela alegria na realização de um sonho tão antigo que eu até cheguei a julgá-lo morto... Porém, quando reli este inchaço de gabarolice, compreendi que não há nada de espantoso nisto.
Espantoso é que a minha mãe, que tem mais de sessenta anos, se recuse a ficar em casa a envelhecer e vá à procura da realização de um sonho tão antigo que se julgava esqueleto. Espantoso é que a minha mãe continue a ter força, coragem, vontade para, dia atrás de dia sem perceber como as notas se juntam, continuar a tentar aprender a tocar acordeão.
Espantoso é que a minha mãe tenha a coragem de uma leoa, a alegria de um pássaro em liberdade e o amor de uma Mãe!
...aqui, deste lado da montanha.
A vida é este caminho até ao outro lado da montanha, um caminho imperfeito, irregular, que vou traçando com lápis nem sempre bem afiado,mas há constantes que se repetem, como um círculo em que tenho de entrar e, depois, dentro do círculo, fica mais fácil avançar, as coisas tornam-se um bola que, empurrada por brisa ligeira, alcança longas distâncias.
Quando estou bem comigo, estou bem com os outros, a vida é boa, e eu, logicamente, fico ainda melhor comigo, fico ainda melhor com os outros, a vida é, ainda, melhor, e eu fico excessivamente bem comigo, e fico excessivamente bem com os outros e... um círculo... que roda, roda, tentando superar pedras e calhaus.
..aqui, deste lado da montanha.
Doce J,
Já há alguns dias que venho até aqui para te escrever algumas palavras, mas as palavras são tão pequenas, tão insignificantes e eu, hesito, apago o que escrevi, não encontro sentido nas frases que aqui vou deixando, tão pequenas... Por isso, doce J, desculpa-me. Desculpa não ter ainda encontrado palavras para ti.
Queria palavras que falassem de amor, mas já as usei; queria palavras que falassem de felicidade, mas elas gastam-se nos meus dias; queria palavras que falassem de esperança, mas a esperança é já toda feita de espera; queria palavras que falassem de carinho e ternura e doçura, mas elas vão preenchendo o teu nome.
Vens e trazes a insuficiência das palavras, trazes novos laços que se enredam em torno de mim, trazes amor.
Não encontro as tuas palavras, porque não há palavras para falar de um raio de sol que nos aquece a alma.
...aqui, deste lado da montanha.
De acordo com a wikipédia:
O bolor é uma designação comum dada a fungos. Eles vivem principalmente em lugares húmidos e escuros. Os bolores crescem sobre pão velho, frutas podres, couro, madeira, papel e muitos outros materiais. Certos tipos de bolores podem causar males à saúde humana. No entanto, algumas espécies desses fungos são benéficas, sendo muito utilizadas na produção de queijos e em medicamentos, como a penicilina.
De acordo com Alma Ni:
Bolores-humanos é uma designação comum dada a pessoas que são fungos e que vivem, principalmente, da escuridão, tristeza e, muitos, da falta de sexo. Crescem sobre pessoas frágeis, tristes, solitárias. Certos bolores humanos podem ser extremamente maléficos. Desconhecem-se espécies de bolores-humanos que sejam benéficas.
Como eliminar bolores:
o tratamento temporário passa por vaporizar os bolores com lixívia e alguma água e, nos mais resistententes, esfregar fortemente; o tratamento permanente consiste em ventilar frequentemente os espaços.
Como eliminar bolores-humanos:
o tratamento destes bolores requer muita persistência, uma vez que há muitas espécies diferentes, que requerem medidas individuais de tratamento, mas, geralmente, é eficaz vaporizar os bolores-humanos com alguns sorrisos e alguma indiferença e, nos mais resistentes, esfregar com boa comida, bom vinho e boa música (não falo de bom sexo, porque isso é mais tratamento permanente, pode levar à morte); o tratamento permanente consiste em dar-lhes momentos de felicidades (são muito alérgicos à felicidade, podendo, eventualmente, alojar-se noutra pessoa...)
...aqui, deste lado da montanha.
Há coisas doces que transformam as nossas vidas, momentos em que és feliz. Há momentos em que só tens tempo para te sentires bem, para ser feliz. Eu não espero a felicidade. Corro atrás dela com o desepero que um esfomeado procura restos de pão entre sacos de lixo podre. Habituei-me a questionar, diariamente, os locais, os momentos, as pessoas, em que um nicho de felicidade se esconde. O meu dia, as minhas horas, os meus minutos são gastos nessa busca. E, como em tudo, quem procura, encontra.
A vida não é um acaso sem condutor. A vida é um acaso que tu guias, que tu orientas, pelas decisões, às vezes insignificantes, ocas, até, que tomas. Eu não desisti de ser feliz.
...aqui, deste lado da montanha.
Os outros não páram de me surpreender. Choca-me a falsidade com que alguns outros falam, choca-me a falsidade com que alguns outros vivem. Convencem-se, tristes, que essa falsa vida em que vivem é a verdadeira. A falsidade destes outros, lembra-me a traição de outros outros.
Choca-me, magoa-me, entristece-me a traição e, ainda mais, a traição daqueles outros que me são tão, tão próximos, que chegam quase a não ser outros, que acreditam que aquilo que fazem não é traição. Pegando nas palavras do meu poeta querido, apetece-me dizer "chegam a fingir que é traição / a traição que deveras cometem"...
...aqui, deste lado da montanha.
Há um outro lado em mim que me separa dos outros, há um lado em mim que é do oposto, que é do contra, que é o da indiferença pura, exagerada e que me separa dos outros. Eu não gosto desse lado em mim, até me esforço para que ele não se evidencie, mas não consigo.
Esse outro lado de mim não compreende as manifestações de alegria pelo Porto ter ganho o campeonato, mas também não compreende se ganha o Benfica ou o Sporting. Isso não me diz nada. Excitam-me, antes, as vitórias dos Juvenis da Académica, isso torna-me feliz. Mas o Porto? Que me interessa? Não conheço ninguém que tenha trabalhado para essa vitória, que tenha sofrido essa vitória, não a sinto, não é minha! Apetece-me gritar, aos outros, que não percebo euforias com gente que não é minha, mas calo-me...
Os meus amigos estão chocados com a ida dos Homens da Luta ao festival da Eurovisão. A mim, é-me indiferente, aboluta e absurdamente indiferente. São tão bons (ou melhores) dos que todos os que têm ido nos últimos anos (alguém se lembra?, aliás, alguém se lembra dos vencedores europeus do ano passado? quantos concertos deles assistiram? quantos discos compraram?). Há muito que este festival deixou de ser um concurso de música, é mais espetáculo nacionalista de dança, coreografia, adereços... Dizem-me, os outros, que os Homens da Luta não representam a música portuguesa e apetece-me gritar-lhes que representam a maioria dos que se interessaram o suficiente pela representação do país para pegarem no telefone e votar, apetece-me gritar-lhes que a boa música portuguesa não precisa de ir a um festival da canção, onde tudo se avalia... até a música. Não percebo tanto incómodo, por uma malta que até representa, a meu ver, muito bem, este estado de país, mas calo-me...
E assim vou, nas calhas da roda, tentando, com o silêncio, comprar amizades...
...aqui, deste lado da montanha.
Temo que este outro lado de mim ainda esteja a tentar definir-se, a tentar definir se escreve, como escreve, sobre o que escreve... Ah quem me dera no tempo em que era fácil não ser Alma Ni!
...aqui, deste lado da montanha.