Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Não sei como os piores dias da vida de alguém podem resultar num momento de felicidade tão grande como o nascimento de um filho, mas foi isso que aconteceu comigo. No dia em que tive um momento para respirar, e escrever o meu último post, o Rafael achou que era hora de nascer, porque adivinhava as melhoras da irmã.
Foi talvez o parto mais inesperado de todas as possibilidades que ao longo destes nove meses imaginei. A angústia que me atormentou durante os dias que estive internada com a minha princesa foi dando lugar a um sentimento de esperança, por vê-la a recuperar, e ao mesmo tempo a uma espécie de descontracção que antecedeu o nascimento do Rafael.
Depois de almoço, o Bi disse-me que vinha a casa buscar roupa (uma vez que graças à gentileza da equipa de Pediatria, estávamos os dois a acompanhar a Pompinhas, prevendo já o nascimento do Rafael a qualquer momento) e eu achei que era melhor ele não vir porque não me estava a sentir muito bem: indisposta e com umas dores, como tinha sentido já anteriormente - podiam ser ou não mais um falso alarme.
Às seis da tarde começaram a intensificar-se as contracções e eu deitei-me, tal como me mandara fazer o obstrecta, para saber se elas passavam. Não passavam. Continuavam a aumentar. Às sete horas a copeira foi ao quarto levar-me a senha para jantar e como me viu assim, disse-me que talvez fosse melhor subir ao piso da Obstetrícia para ser observada, mas, como estava com receio de que fosse falso alarme, disse apenas ao Bi que me estava a sentir com mais contracções e fui jantar. Confesso que as dores se intensificaram de tal modo que apenas comi um prato de sopa.
Depois lavei-me, arranjei as coisas que tinha no hospital, separei as roupas e os sacos e fui perguntar como se ia da Pediatria para a obstetrícia. Mais uma vez, a enfermeira foi genial e mandou a copeira comigo. Esta senhora, de quem não sei o nome, veio comigo às urgências fazer a ficha, levou-me lá acima, recomendou-me à enfermeira e esperou por mim, até saber o que ia acontecer. Quando entrei, não havia nenhum médico de serviço, mas, por sorte, estava lá a enfermeira Ana, que era quem estava lá na sexta-feira passada e quem tinha feito o parto da Sofia Miguel. Ela disse-me logo que estava destinada a ser ela a fazer também este parto porque ia ficar a fazer noite e eu já tinha 3 dedos de dilatação. Depois perguntou-me se eu queria ficar já numa cama ou se preferia vir até à Pediatria e aguardar que chegasse algum médico. É claro que eu quis ir dar um beijinho na Sofia Miguel e contar ao meu amor que o Rafael ia nascer. Eram nove horas quando a enfermeira me observou e até às nove e meia estivemos os três deitados de mãos dadas a tentar que a Sofia adormecesse para o Bi poder ir ter comigo.
Como as dores se foram intensificando, fui subindo e liguei apenas à Di a contar-lhe o que se passava. Às dez horas e quinze minutos, finalmente, apareceu uma médica que me viu e que, por insistência da enfermeira Ana, lá me fez um toque e viu que já estava com 4 dedos de dilatação. A enfermeira deu-me um clister, mas, quando fui à casa de banho apenas senti uma água a escorrer e as dores a intensificarem-se e não consegui fazer mais nada. A enfermeira levou-me para um quarto de dilatação e disse que já dava para me dar a epidural, e neste momento entra a médica e diz que me faltavam umas análises para a epidural... Eu, nesse momento, pensei que tudo ia correr mal. A enfermeira pediu as análises, com urgência, e achou que era melhor ver se o Bi já tinha chegado para me fazer umas massagens.
As contracções eram cada vez menos espaçadas e mais dolorosas e, de repente, entrou a enfermeira Ana e eu disse-lhe que elas eram cada vez mais próximas e ela disse que já tinha metido uma cunha para as análises serem mais rápidas e depois olhou para mim e perguntou se eu tinha vontade de fazer força, disse-me "tenho de a ver", "já não vai dar para fazer a epidural", "tenha calma que o momento expulsivo não custa"... E eu só pensava que ia tudo correr mal, porque estava com tantas dores.
Fui para a sala de partos a andar para ver se o meu bebé descia um pouco mais e quando me deitei comecei logo a fazer força. O Bi segurou-me na mão e dava-me força para eu continuar. A certa altura a enfermeira disse-me para parar e, quando eu olhei para a auxiliar que estava ao meu lado, senti que alguma coisa não estava bem. A enfermeira Ana mandou-me fazer força uma última vez e disse "pronto, já cá está", mas eu só via a auxiliar a esfregar uns pézinhos todos roxos e a dizer "vá, bebé, vá!". Nem mo mostraram. Levaram-no logo para trás de mim. Procurei os olhos o Bi que não parava de olhar para trás de mim enquanto me dizia que eu tinha conseguido. Eu perguntei-lhe se estava tudo bem e ele disse-me que sim, mas eu sentia que não. Perguntei se ele tinha visto o bebé a respirar e ele suspirou forte e disse que sim, mas eu sei, agora, que só neste momento ele tinha visto o peito dele a encher-se de oxigénio, com a ajuda do pediatra. O meu pequenino nasceu com uma circular toráxica e, talvez por isso, só chorou (respirou) mais tarde e não assim que nasceu.
Entretanto o pediatra, que por coincidência era o pediatra da Sofia, disse que estava tudo bem e, na primeira consulta do Rafael até explicou que a situação é mais frequente do que pensamos e pouco preocupante, mas que foram (mais) uns momentos de angústia, lá isso foram...
É claro que, hoje, em casa, com os meus dois filhotes e o meu amor, todo este sofrimento parece longínquo, mas as recordações destes dias que antecederam o parto e os momentos do parto foram sofridos. Agora só quero estar com os meus amores e chorar estas horas, porque ainda não tive tempo para chorar. Quando as lágrimas levarem estas tristezas, sei que só haverá lugar para a imensa felicidade que sinto.